Sobre o “Dia D” do PMDB e suas consequências - Hold

Sobre o “Dia D” do PMDB e suas consequências

A história registra o 6 de junho de 1944 como o “Dia D”. Na ocasião, tropas aliadas desembarcaram na Normandia, situada na costa da França, e começaram a derrotar o exército de Adolf Hitler na frente oeste européia. A crônica política brasileira, por sua vez, lembrará do 29 de março de 2016 como o “Dia D” do PMDB, a data em que o maior partido do país desembarcou do governo Dilma.

No entanto, ao contrário do ocorrido na Segunda Guerra Mundial, com as tropas alemãs sendo pegas de surpresa, a decisão peemedebista de deixar o governo era cantada em verso e prosa por praticamente todo o mundo político. Na verdade, a surpresa seria uma decisão contrária do partido, qual seja, a de permanecer ao lado do PT e da presidente Dilma. A carta do vice-presidente Michel Temer à presidente, divulgada no final de 2015, já indicava esse rumo.

A nova posição do PMDB, a princípio, deverá gerar um efeito cascata – outros partidos aliados, como o PP, o PR e o PSD, podem anunciar muito em breve o desligamento do governo. O fato tem consequências dramáticas, pois isola ainda mais a presidente Dilma justamente quando o processo de impeachment avança com celeridade na Comissão Especial da Câmara. Pelos cálculos em curso, os deputados deverão votar sobre o afastamento da presidente até o final de abril. O tempo corre e as opções do Planalto são cada vez mais escassas.

Em primeiro lugar, a matemática é contrária ao governo. O Planalto precisa dos votos de ao menos 171 deputados para barrar o processo de impeachment já na Câmara. Com a diminuição da base de sustentação, a partir da saída do PMDB, Dilma contaria com apenas três partidos de seu “núcleo duro” – o PT, o PC do B e o PDT. Somadas, as três agremiações atingem pouco mais de noventa votos, muito aquém do mínimo necessário. Mesmo com a adesão de peemedebistas insatisfeitos com a decisão do partido, calcula-se que pouco mais de 120 votos iriam para a cesta governista. Assim, a continuidade do processo de afastamento da presidente ganha materialidade.

Aceito pelo plenário da Câmara, o processo seguirá de imediato para o Senado Federal. Naquela Casa, os senadores inicialmente decidirão sobre a continuidade ou não do debate. Poucos meses atrás, acreditava-se que os senadores barrariam qualquer tentativa de se afastar em definitivo a presidente. Agora, porém, com o agravamento das crises política e econômica e o aprofundamento da Lava Jato, o quadro é outro. Poucos são os parlamentares que hoje se sentem confortáveis para defender o governo. A baixa popularidade da presidente e a crescente pressão das ruas reforçam essa percepção.

No Senado, o principal aliado do Planalto, e fiador da governabilidade, é o senador Renan Calheiros (PMDB/AL). Nas últimas semanas, mesmo ele tem se mostrado ambíguo em seus atos e declarações. Com a saída do PMDB, não se deve apostar que a fidelidade de Calheiros ao governo se mantenha. Mais um ponto contra Dilma.

Nem mesmo o eventual ingresso do ex-presidente Lula no governo, seja como ministro ou articulador informal, altera o cenário. O maior líder petista precisa se defender das investidas da Lava Jato e teria pouco tempo para trabalhar na conquista de apoios para o governo. Seu capital político também já não é o mesmo – o “Lulinha paz e amor” é uma construção que ficou no passado e muitos de seus antigos aliados e apoiadores hoje olham-no com certa desconfiança.

Resta saber agora qual será a reação imediata do Congresso Nacional, em especial da Câmara dos Deputados, nesse primeiro momento após a decisão do PMDB. Também a posição dos ministros do partido será de grande importância. Os próximos dias serão cruciais para a sinalização dos rumos a serem tomados e das reais possibilidades do governo ainda virar o jogo.

Comments are closed.