Os quatro riscos para o Governo Temer - Hold

Os quatro riscos para o Governo Temer

Após pouco mais de duas semanas no Planalto, o governo de Michel Temer já sente as dificuldades que a nova gestão enfrentará ao longo dos próximos meses. A queda do ministro do Planejamento, Romero Jucá, é o exemplo mais acabado dessa realidade. Os problemas podem ser divididos em quatro categorias – políticos, econômicos, sociais e Lava-Jato. O presente texto pretende esmiuçar cada um deles.

Riscos políticos – os riscos políticos têm como origem principal a frágil base de sustentação do governo. Apesar de ampla, a coligação de Temer tem o mesmo problema daquela da presidente afastada Dilma Rousseff – falta de unidade e diferentes perfis ideológicos. É muito difícil, por exemplo, o PSB, que detém o ministério de Minas e Energia, dialogar com o PP, que comanda a Saúde e a Agricultura. Essas diferenças, que se espalham por todos os ministérios e partidos, ficarão mais evidentes com o processo de discussão e votação, no Congresso Nacional, dos projetos mais polêmicos de grande interesse do governo, como a reforma da Previdência. Mesmo dentro das bancadas há pontos divergentes, que não estão sendo abordados a contento pelas lideranças governistas.

Também as acusações contra integrantes de primeiro e segundo escalões representam outro risco político para Temer. O afastamento do ministro do Planejamento, Romero Jucá, após a divulgação de conversas suas com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, indica claramente que o novo governo “caminha sobre gelo fino”. A operação Lava-Jato da Polícia Federal, nesse sentido, terá peso sobre os destinos da administração (ver mais abaixo).

Riscos econômicos – é do conhecimento geral que a questão econômica é tema crucial para o governo Temer. O hostil ambiente econômico, com inflação e desemprego em alta, PIB em forte queda, empresas fechando as portas e investidores temerosos de aportar recursos no país, representa o grande desafio para o Planalto, que precisa responder rapidamente a esse quadro. No entanto, as propostas apresentadas até agora pela equipe econômica sinalizam apenas mais aperto para a sociedade. O aumento de impostos, com a possível volta de um tributo similar à CPMF, é polêmico e gera forte desgaste para Temer.
Uma pequena vitória obtida pelo Planalto foi a aprovação, pelo Congresso Nacional, da proposta de revisão da meta fiscal para 2016, com a elevação do déficit primário para R$ 170 bilhões. O resultado dá ao governo fôlego a curto prazo, mas ainda é pouco diante do dramático quadro em que vive o país.

Riscos sociais – os riscos sociais são divididos em duas categorias. Em primeiro lugar, temos o debate em curso dentro das pastas mais sensíveis, como Saúde, Educação e Desenvolvimento Social. Tão logo assumiram, os ministros se envolveram em polêmicas desnecessárias (revisão da política do SUS, cobrança de mensalidade pelas universidades federais em determinados casos, reunião com o ator Alexandre Frota, ataques aos sem-terra), o que mostra pouco tato político. Ao presidente Temer, no caso específico, será necessário manter sob “rédea-curta” esses ministros.

Os riscos sociais também envolvem os setores organizados da sociedade civil, muitos deles fortemente vinculados ao PT. Entidades como o MST, a UNE e a CUT manterão suas ações contra o governo nas ruas e nas redes sociais. Um eventual conflito efetivo destes com simpatizantes do governo Temer desgastaria sobremaneira o Planalto.

Riscos da Operação Lava-Jato – a Operação Lava-Jato da Polícia Federal representa elevado risco para o Planalto. A recente divulgação de gravações envolvendo nomes do primeiro escalão enfraquece Temer, que vê muitos de seus aliados em risco. Nesse caso, tudo é possível e o imponderável está em campo.

Temer enfrenta aqui outra delicadeza. Ao mesmo tempo em que precisa manter certos limites no âmbito da operação, ele não pode jogar com isso às claras, pois desagradaria parcela significativa do eleitorado que defende a Lava-Jato, e também a Polícia Federal não veria a “intervenção” com bons olhos. O presidente interino precisa encontrar a solução perfeita para a difícil equação política.

Conclusão – como se pode aferir, o quadro geral não é positivo para o governo, que até o presente momento acumula mais derrotas que vitórias. Os quatro riscos listados são relacionados entre si, e o eventual crescimento de um deles certamente impactará os demais. A Temer, resta manter a serenidade e, em paralelo, ter pulso firme sobre seus comandados. Do contrário, seu governo seguirá sob forte pressão.

Comments are closed.