Governo em construção: transição - Hold

Governo em construção: transição

Capítulo nº 1

Começa oficialmente hoje, 5 de novembro, o período de transição do governo Temer para a gestão Bolsonaro. Ao longo das próximas semanas serão criadas as condições políticas e institucionais para a administração do presidente eleito em 28 de outubro.

Na prática, o gabinete de transição coletará informações e trabalhará na construção da futura gestão. Apesar de ter forte caráter técnico, o componente político se fará presente no período.

Em uma clara indicação do peso político que terá no governo Bolsonaro, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM) comandará o processo. Futuro ministro-chefe da Casa Civil, ele será uma peça estratégica e central no tabuleiro político em construção. Parlamentar experiente e com ascendência sobre o presidente eleito, as decisões a serem tomadas a partir de agora passarão por ele. O acesso ao novo presidente necessariamente passa pelo deputado e futuro ministro.

A agenda econômica terá destaque na transição. O principal nome, é claro, é o do economista Paulo Guedes, outro expoente da campanha de Bolsonaro. Guedes terá uma equipe de peso a seu lado. Integrarão a equipe os economistas Carlos da Costa, ex-diretor do BNDES; Adolfo Sachsida, do IPEA; Marcos Cintra, ex-deputado federal e especialista em tributação, atualmente na FGV; e Abraham Weintraub, que foi economista-chefe do Banco Votorantim. Em tese, esses nomes dão lastro a Bolsonaro e, a princípio, tranquilizam o mercado.

Ainda no quesito economia, há grande expectativa sobre como o tema será abordado na transição. Espera-se prudência da parte de Bolsonaro e sua equipe. O controle da inflação e as condições para a retomada consistente do crescimento econômico do Brasil estarão no centro das atenções. Também estarão em pauta uma série de medidas que visam a redução do deficit das contas públicas.

O governo Temer, de maneira específica, deverá apresentar à equipe de Bolsonaro algumas sugestões e propostas. Dentre elas destacam-se a que trata do fim do abono salarial e do congelamento dos vencimentos dos servidores públicos até 2020. São duas medidas de elevado custo político, que demandarão intensa negociação com o Congresso Nacional. Aqui, Bolsonaro não pode errar - a eventual rejeição dessas proposições pelos parlamentares seria um sinal de fraqueza do novo governo.

A transição embute riscos políticos para Bolsonaro. A relação entre Lorenzoni e Guedes, tumultuada em momentos recentes, será fundamental para o desenho político do novo governo. Eventuais rusgas e embates públicos poderão gerar desconforto junto aos atores econômicos, o que seria péssimo para Bolsonaro. Igualmente delicada será a relação entre os grupos que integram o entorno do presidente eleito. Há de se buscar unidade interna.

A atual transição pode se assemelhar à do final de 2002, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso passou o bastão a Lula. Ali, predominou a harmonia entre as partes. Espera-se o mesmo agora.

Para efeitos práticos, a administração Temer já chegou ao fim. Agora, o governo Bolsonaro já comanda o Brasil.

André Pereira César
Cientista Político

Texto publicado originalmente em 05/11/2018.

Comments are closed.