O título remete ao clássico de Ernest Hemingway mas a situação reflete algo bastante real e contemporâneo. Na capital federal, as celebrações dos aniversários de veteranos atores políticos mostra a força de uma elite que jamais se afastou do poder.
Aos fatos. Semanas atrás, a comemoração dos 78 anos de José Dirceu teve forte peso simbólico. Mais do que um simples convescote em uma mansão do Lago Sul, o evento marcou a redenção do petista, após anos de submersão. Político habilidoso, um verdadeiro esgrimista do jogo do poder, ele recebeu o establishment de Brasília, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), passando por nomes que compõem todo o leque programático-ideológico do país. Um autêntico “quem é quem” da vida pública nacional.
Mais recentemente, o ex-presidente José Sarney mostrou a extensão de seu prestígio na festa de 94 anos, ocorrida no mesmo icônico Lago Sul. Todos estavam lá. Presidentes de partidos, o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, Michel Temer, José Roberto Arruda, José Dirceu, Flávio Dino e Cristiano Zanin, os presidentes Rodrigo Pacheco (PSD/MG) e Arthur Lira, Geraldo Alckmin e a grande maioria dos ministros do Governo Lula. Executivo, Legislativo e Judiciário marcaram presença no concorrido evento, em uma clara demonstração de que eventuais divergências políticas ficam de lado quando se trata de figuras históricas. Não por acaso, os festejos em torno do maranhense ocuparam grande espaço e aguçaram a polarização nas redes sociais - e, evidentemente, também na imprensa tradicional.
Figura menos proeminente, mas não menos importante nos dias que correm, o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), também celebrou seu aniversário contando com a presença da nata do mundo político. Pré-candidato a presidente da Câmara e com boas relações com integrantes dos governos Temer, Bolsonaro e Lula, o parlamentar deixou claro seu prestígio. Algo que não é para todos.
Em tempos de polarização extrema, o ambiente de Brasília, com todos os seus problemas, acaba por facilitar o processo de distensão. Cria-se na cidade uma realidade que, aos que não conhecem a região, certo tipo de estranhamento. A democracia agradece.
Brasília não é Paris, mas está próxima.
André Pereira César
Cientista Político
