Segurança pública, Forças Armadas e Polícia Federal - Política - Hold

Segurança pública, Forças Armadas e Polícia Federal

Conforme já observamos nesse espaço em outras ocasiões, o tema é complexo, politicamente delicado e mexe com a opinião pública - e com o cotidiano da população. A segurança pública continua a ser um nó para o governo Lula (PT), que tem dificuldades para abordar o problema.

O mais recente movimento do Planalto evidencia essa realidade. Ao decidir prorrogar o emprego das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em portos e aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo, o presidente da República gerou ruídos na Polícia Federal, que já vinha se estranhando com Lula.

Aos fatos. A princípio, a participação dos militares no processo, iniciada em novembro do ano passado, iria até o início de maio, mas foi estendida para o início de junho. A medida baseou-se em parecer dos ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da Defesa, José Múcio, e teve o aval do ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho (Republicanos/PE).

Uma das justificativas para a decisão está nos números da operação desde seu início. Entre esses números estão 3.178 pessoas presas, 172 toneladas de drogas, 282 armas e 11 mil munições apreendidas. Muito? Segundo especialistas, um desempenho pouco mais que pífio.

As críticas à operação não estão restritas aos números apresentados - e fazem sentido. Em primeiro lugar, as Forças Armadas não são treinadas para, como se diz, “subir morro para pegar traficante”. Esses tipos de intervenções, incluindo o que ocorre nos portos e aeroportos, seriam da competência das polícias. Além disso, falta coordenação eficaz de inteligência, o que, ao final, seria muito menos oneroso para o Estado.

O México é um exemplo claro de como tudo pode dar errado. Em 2007, o presidente Felipe Calderón determinou que as Forças Armadas atuariam no combate ao narcotráfico. Foi desastroso, pois as gangues se espalharam de maneira exponencial. O atual comandante do país, López Obrador (o polêmico AMLO), estendeu até 2028 a inócua medida, dado que os grupos narcotraficantes ampliam seus tentáculos a olhos vistos - com milhares de vidas perdidas.

Voltando à insatisfação da Polícia Federal com a prorrogação da GLO, ficou evidente uma preferência (ou temor) do Planalto pelos militares. Para além, o orçamento da corporação (PF) está sendo cortado.

Para concluir, a opinião do secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Luiz Sarrubo. Segundo ele, ações contra o crime organizado demandam inteligência e baixa letalidade policial - por sinal, um recado para as polícias militares de São Paulo e Bahia, em especial. Essas ações exigem ir além das questões fiscais do governo federal. Segurança pública é investimento.

Em suma, GLO não rima com circo, mas pode chegar perto. Outras ações sem dúvida são muito mais efetivas. Sem militares.

André Pereira César

Cientista Político

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