Conflito Israel/Hamas: atualização de cenários - Sem categoria - Hold

Conflito Israel/Hamas: atualização de cenários

A guerra entre Israel e o Hamas ganhou escala e uma crise nunca vista se instalou na região. Sem perspectiva de um acordo imediato, com milhares de mortos e feridos, a população está encurralada. Para complicar, outros atores se envolveram, de alguma forma, no conflito. O quadro é sombrio.

. Principal aliado de Israel, os Estados Unidos enviaram dois porta aviões para o Mediterrâneo, em uma clara tentativa de intimidar os inimigos daquele país. O movimento, contudo, pode acirrar ainda mais os ânimos na região.

. O presidente dos EUA, Joe Biden, por sua vez, afirmou que “seria um erro Israel ocupar Gaza” e que a solução para a crise seria “a derrota total do Hamas”. Resta saber o que pensam realmente as autoridades israelenses.

. Ainda sobre os Estados Unidos, o Irã ameaçou com “danos significativos” para aquele país caso o conflito se expanda ainda mais. O quadro traz à mente dos norte-americanos a crise da embaixada em Teerã, no final dos anos setenta do século passado, com mais de cinquenta reféns mantidos presos por mais de um ano.

. Enquanto isso, do sul do Líbano, o Hezbolah, grupo ligado ao Irã, realiza ataques esporádicos contra Israel, sinalizando que pode ingressar no confronto. Nesse caso os israelenses teriam duas frentes de conflito, ao norte e a sul, gerando riscos extras para a segurança da nação.

. Na Europa, ao menos três países sofrem efeitos colaterais da guerra. Na França, ameaças de bomba ao Museu do Louvre, ao Palácio de Versalhes e à Gare de Lyon; na Alemanha, casas amanheceram pichadas com a Estrela de Davi em suas fachadas, ecoando a prática dos nazistas na década de trinta; por fim, a sede da rede BBC foi cercada por manifestantes palestinos em Londres, o que obrigou o governo a utilizar quase mil homens das forças de segurança locais. Não se pode descartar a possibilidade de ataques terroristas efetivamente letais.

. O governo de Israel suspendeu as exportações de material de defesa para a Colômbia. A decisão é uma resposta às declarações do presidente colombiano, Gustavo Petro, que comparou o bloqueio total de Gaza pelos israelenses às práticas do nazismo contra os judeus.

. Número atualizado de reféns nas mãos do Hamas - 199. A localização exata deles é incerta.

. Por fim, Israel negou qualquer possibilidade de um cessar-fogo e abertura de um corredor humanitário, enquanto sufoca centenas de milhares de inocentes palestinos com bombardeios diários e com o corte de água, luz, combustíveis, remédios e alimentos. Qualquer ajuda humanitária externa foi bloqueada.

. Enquanto isso o Brasil, na condição de presidente rotativo do Conselho de Segurança da ONU, tenta costurar um acordo que leve ao cessar-fogo na região. Aparentemente, Estados Unidos e Egito encaminharam um entendimento inicial para que a fronteira sul de Gaza fique aberta por algumas horas nessa segunda-feira, para que a população local deixe a região. Israel, porém, resiste.

. Algumas perguntas se colocam agora. Quais os planos de Israel para o pós-guerra? Qual o destino do governo de Benjamin Netanyahu? Como serão as relações entre os israelenses e o mundo árabe após o conflito? Qual o futuro do Hamas?

. Em suma, o quadro é de absoluta incerteza e os riscos são consideráveis. Interessante observar que a crise no Oriente Médio tirou das manchetes o conflito na Ucrânia - e o presidente russo, Vladimir Putin, pode aproveitar a situação para escalar também os embates naquele país. O mundo, definitivamente, não é um lugar seguro.

André Pereira César

Cientista Político

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