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Armas, sociedade e eleições

Um novo ator começa a ganhar espaço no jogo político-eleitoral brasileiro. Em extensa e preocupante matéria publicada nessa quarta-feira, 27 de julho, no jornal O Estado de São Paulo, defensores da escalada armamentista entre a população articulam formar uma bancada no Congresso Nacional a partir da próxima legislatura. Tudo com o apoio do Planalto.

Os números apresentados são contundentes. Em todo o país, há mais de trinta candidaturas a deputado federal, senador e governador nesse campo. Para os legislativos estaduais e distrital, mais de vinte nomes já se apresentaram. Um contingente nada desprezível, mobilizado e barulhento.

Em linhas gerais, todos têm ligações com a Associação Proarmas, a mais representativa da classe. São os CAC’s – colecionadores de armas, atiradores desportivos e caçadores. No limite, fala-se na possibilidade (futura) de se criar um partido político a partir do grupo.

Por trás disso está o incentivo do presidente Jair Bolsonaro (PL) para que a população se arme. Não por acaso, ele tem incluído em sua agenda reuniões com líderes e pré-candidatos vinculados ao movimento. Apenas para registrar, o número de atiradores e colecionadores registrados passou de pouco mais de 117 mil em 2018 para 673 mil em 2022, aumento de 474%. Crescimento exponencial e um potencial risco para a sociedade.

Pior, a quantidade de atiradores supera o efetivo de policiais militares na ativa (406 mil) e das Forças Armadas (360 mil). Na prática, o país tem hoje uma espécie de exército paralelo, pronto a entrar em ação caso convocado para agir na defesa dos interesses dos “cidadãos de bem”.

No âmbito do Congresso Nacional, os defensores do armamento da população já atuam com força há anos, sem muito sucesso até então, mas o eventual ingresso desse contingente de CAC’s poderá dar uma virada no jogo. Os debates serão mais duros e a agenda sobre o tema deverá avançar muitas casas. Uma situação complicada em um país como o Brasil, que já enfrenta graves crises sociais e de segurança pública.

O atual governo, de sua parte, tenta se espelhar nos Estados Unidos da América, com sua cultura armamentista. Incentivado pela estrutura oficial do Estado, o movimento dos atiradores nada mais é do que uma consequência natural dessa realidade. Afinal, teremos um “Tiros em Columbine” à brasileira?

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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