Não surpreende que, após reveses em série, o governo começa a mudar a articulação política. O próprio presidente Lula (PT), tardiamente diga-se, está entrando em campo para tratar de negociações mais delicadas. O êxito dessa empreitada é incerto.
Os principais alvos são os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ambos petistas bastante próximos do presidente. Os dois são apontados por aliados como os responsáveis pelas recentes derrotas do governo no Congresso Nacional, como a instalação da CPI do MST e a derrubada das mudanças do marco regulatório do saneamento. Não é demais afirmar que, no jogo da política, alguém precisa ser responsabilizado.
No caso de Padilha, as declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), que disse que o ministro seria uma “pessoa fina, mas que enfrenta problemas” indicam o início de um processo de fritura. O ministro Padilha terá forças para resistir? A conferir.
Os problemas se repetem em outras áreas do governo, como no desentendimento público entre o ministério de Minas e Energia e a Petrobras. Fogo cruzado dentro da chamada “frente ampla”.
Divergências também contra o ministério da Fazenda. Tanto que o titular do Planalto externou sua insatisfação com o próprio PT. Em reunião com lideranças e ministros, ele deixou claro que não aceitará dissidentes na base aliada quando da votação do projeto do novo arcabouço fiscal. Quem for contra sofrerá sanções. Entre os petistas há diversos deputados contrários à proposta. Comportamento digno de oposição.
A agenda mais complexa começará a ser discutida somente agora. Falta ao Planalto e as lideranças unir discurso e ação, o que não tem sido feito. Bater cabeça demostra apenas fraqueza.
Por fim, é preciso ajustar a comunicação com a opinião pública. O que se vê é uma comédia de erros nesse quesito, afetando o governo como um todo. Sozinho, o carisma de Lula não resolve.
André Pereira César
Cientista Político
