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Uma ficção chamada PSL

Os recentes movimentos do presidente Jair Bolsonaro, que ameaça deixar o PSL, reforçaram a percepção acerca da fragilidade do partido, como já havíamos afirmado em textos anteriores. Sem uma linha programática definida e com muitos parlamentares inexperientes, a agremiação passa por sua crise mais grave. O futuro do PSL é incerto.

A briga está centrada entre Bolsonaro e o presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PE). Um dos fiadores da candidatura presidencial em 2018, o parlamentar entrou em rota de colisão com o titular do Planalto. O presidente da República, porém, parece ter calculado de maneira equivocada seu movimento - diversos parlamentares do PSL criticaram-no, inclusive o líder no Senado Federal, Major Olímpio (SP). Voz moderada dentro do partido, o senador vocalizou o sentimento de muitos de seus correligionários.

Há muito em jogo na questão envolvendo os rumos do PSL. De acordo com o noticiado pela imprensa nacional, deputados que manifestaram intenção de deixar a sigla ou que a atacaram publicamente, acompanhando o presidente, deverão ser removidos de seus postos nas comissões temáticas da Câmara dos Deputados e da liderança do partido. Ontem mesmo a deputada Alê Silva (MG) já havia sido destituída da Comissão de Finanças e Tributação. Nesta quinta (10), deverão sofrer sanções os deputados(as) Carlos Jordy (RJ), Luiz Philippe Orleans e Bragança (SP), Carla Zambelli (SP), Bibo Nunes (RS) e Filipe Barros (PR).

Segunda maior bancada da Câmara, o partido é fundamental para o avanço da agenda governista. Também a distribuição de cargos nas duas Casas se dá proporcionalmente ao tamanho das bancadas, e uma eventual desidratação do PSL geraria perdas para os parlamentares. Isso sem falar das eleições do próximo ano - como ficará a relação dos congressistas com suas bases?

De seu lado, Bolsonaro parece se escudar em seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (SP). Esse último, por sinal, enfrenta dificuldades para ter aprovada sua indicação para a embaixada brasileira nos Estados Unidos. A atual crise prejudica ainda mais suas pretensões.

Ao partir para o confronto com o deputado Bivar, Jair Bolsonaro corre o risco de se isolar ainda mais. Assessores mais próximos avaliam que o presidente Jair Bolsonaro, nesse episódio, não tem tido o apoio da maioria de seus ministros na batalha das redes sociais. Os que o defendem podem ser contados nos dedos. Sua ação, de certo modo, lembra a do ex-presidente Jânio Quadros, que renunciou para testar o apoio político que tinha. Como se sabe, foi um grave erro.

Por fim, Bolsonaro apenas desnudou as fragilidades do PSL. Na prática, o partido se mostra mais uma ficção do que realidade e seu esfacelamento a curto e médio prazos não pode ser descartado.

André Pereira César
Cientista Político

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