A formação do bloco entre MDB, PSD, Republicanos, PSC e Podemos, terá grande impacto sobre os trabalhos da Câmara dos Deputados. Com 142 deputados, o já chamado “superbloco”, em tese, reduz o poder do presidente Arthur Lira (PP/AL), hoje o ainda todo-poderoso da política brasileira.
Aos fatos. A negociação para a criação do bloco foi comandada pelos presidentes do MDB, Baleia Rossi (MDB/SP), e do PSD, Gilberto Kassab (PSD/SP) (esse último um dos principais condutores do governo paulista) que a exemplo de Lira, é também um dos principais protagonista da cena política atual. Cachorros grandes se movendo.
Chama a atenção a presença do Republicanos no bloco. O partido, presidido por Marcos Pereira (Republicanos/SP), é um expoente do Centrão, um dos tripés, ao lado do PP e do PL. Estaria a legenda se afastando de Lira? Cabe lembrar que o Republicanos tem flertado com o governo Lula e esse movimento pode indicar mais um passo na adesão, mesmo que parcial.
Reforça a percepção de que Lira está perdendo espaço o fato de que ele não havia sido informado sobre a mobilização que resultou na criação do superbloco. Quando o movimento chegou a seus ouvidos, já era algo consumado. Nada havia a ser feito.
O presidente da Câmara já tem outro embate, esse mais visível, com o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), que percebeu o momento de fragilidade e resolveu avançar sobre o vizinho de porta. Essa nova frente de conflitos pode representar mais riscos à liderança de Lira sobre seus pares. Se recuar e ceder às investidas do Senado, perde poder e consequentemente tudo que advém da Cadeira que ocupa, como o comando da pauta e a indicação de aliados em postos chaves no governo. Sinal amarelo acionado.
Por mais incrível que possa parecer, a máxima de dar corda para se enforcar, no caso de Lira, nunca foi tão verdadeira. Lira tocou a segunda metade do governo de Jair Bolsonaro (PL) com a ajuda das emendas de relator. Com o início do novo governo, e muito em função dos ajustes que foram feitos no orçamento, a fonte secou. Agora, sem um efetivo instrumento de força e de troca, vê seu ativo político diminuir. Os chacais que se escondem nos corredores do Congresso e que sempre estiveram à espreita, aproveitaram a oportunidade. Apesar das reais implicações de uma possível perda de validade das principais MPs editadas pelo presidente Lula (PT), muitos assistiram de camarote a ascensão e agora torcem pela queda de Lira.
Trocando em miúdos, a força de Lira, que teve seu ápice na recondução ao comando da Casa (impressionantes 464 votos), lentamente começa a erodir. Os sinais ainda são tênues, mas algo se mexe no Salão Verde.
André Pereira César
Cientista Político
Alvaro Maimoni
Consultor Jurídico