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Um pêndulo chamado Brasil

Historicamente, o Brasil sempre teve um papel de mediador no cenário internacional. Por seu tamanho e diversidade, o país transita de um lado para outro, como um pêndulo. Assim, há proximidade com os Estados Unidos, a maior potência global, mas também com a China, nosso principal parceiro comercial e sócio no BRICS. Na América do Sul, somos a grande referência para os vizinhos. O Brasil, inegavelmente, é um importante player.

Com os Estados Unidos, as relações esfriaram a partir de 2021, com a absoluta ausência de diálogo entre os governos de Joe Biden e Jair Bolsonaro (PL). Daí a importância da recente visita do presidente Lula (PT) aos norte-americano. O Brasil retoma as negociações com aquele país em outros termos, e com uma extensa agenda, com foco na economia e no meio ambiente, mas também em defesa da democracia. Outros ares.

No caso da China, as conversas também esfriaram nos últimos tempos. Pior, o nível de tensão chegou a subir em determinados momentos, como a crise entre o embaixador do país e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL/SP), que inclusive pediu o afastamento do diplomata. Negócios estiveram em risco e, agora, a visita de Lula a Pequim, em breve, buscará retomar a normalidade.

Ainda sobre a China, há a questão dos BRICS. O Brasil se tornou uma peça secundária no bloco - a China é uma potência que desafia os Estados Unidos, a Índia cresce e tem a maior população do planeta, a Rússia concentra as atenções com a guerra na Ucrânia. Assim, o governo brasileiro tentará reposicionar o país entre seus sócios. A presença da ex-presidente Dilma Rousseff na presidência do banco dos BRICS pode ajudar nesse cenário.

Na América do Sul, a retomada das conversas com os vizinhos é das principais prioridades de Lula. Não por acaso, a primeira viagem do titular do Planalto ao exterior foi à Argentina e ao Uruguai. A conferir se o Mercosul, colocado em segundo plano na gestão Bolsonaro, ganhará novo fôlego.

A Europa também volta ao debate no Brasil. A retomada do Fundo Amazônia, com Noruega e Alemanha voltando a aportar recursos, e a volto do diálogo com a França de Emmanuel Macron, sinalizam um novo tempo. O governo brasileiro, com sua nova agenda, tem muito a ganhar com esse ambiente.

Por fim, será necessário observar como se dará a relação entre o Brasil e os demais países, em especial da África, que sempre esteve no radar de nossa diplomacia, mas andou em baixa nos últimos anos. Trata-se de um mercado importante para o Brasil, que não pode ser simplesmente desprezado.

O Brasil, por sua história e peso econômico e geopolítico, é um ator importante na cena internacional. Há convergência entre a agenda global e os interesses do país. O movimento pendular do Brasil pode ser de grande utilidade nesse momento.

André Pereira César
Cientista Político

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