Um novo tempo - Política - Hold

Um novo tempo

“Não existem dois Brasis (…). É hora de baixar as armas, que jamais deveriam ter sido empunhadas”. Com essas palavras, o reeleito presidente Lula (PT) se dirigiu à nação na noite de domingo, tão logo confirmada sua vitória no segundo turno. Entramos em um novo tempo?

A rigor, trata-se de uma mudança de ciclo similar ao ocorrido na virada de 2002 para 2003, quando o petista iniciou seu primeiro mandato após os oito anos de gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). À época, o tucano abriu as portas do Planalto e as equipes de transição puderam trabalhar às claras. É altamente improvável que tal cenário se repita agora.

Cabe aqui um rápido registro. Ao não cumprir o tradicional ritual de cumprimentar o vencedor do pleito, o presidente Jair Bolsonaro (PL) gera incertezas adicionais e estimula seu eleitor mais ideológico a sair às ruas contra o resultado das urnas - por exemplo, caminhoneiros estão tentando paralisar importantes rodovias, como a Dutra. Ecos de Trump em terras brasileiras.

Alguns movimentos merecem um olhar mais atento. Primeiro, com relação à eleição dos governadores. Bolsonaro sai menor das urnas. Apesar da vitória em São Paulo e em Santa Catarina, onde de fato os eleitos são aliados de Bolsonaro, o que se verá nos outros estados brasileiros, a partir de 1º de janeiro de 2023, será um pragmatismo político.

Mauro Mendes (União Brasil/MT), Ronaldo Caiado (União Brasil/GO), Ibanes Rocha (MDB/DF), Ratinho JR. (PSD/PR), Fábio Mitidiere (PSD/SE), Cláudio Castro (PL/RJ), Eduardo Leite (PSDB/RS) e Romeu Zema (Novo/MG), são alguns dos exemplos de que, em algum momento, estarão mais próximos do governo federal do que na oposição.

Diferente do que se observará com Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP), Jorginho Mello (PL/SC), Wanderlei Barbosa (Republicanos/TO), Antonio Denarium (Progressistas/RR), Coronel Marcos Rocha (União/RO), Wilson Lima (AM) e Gladson Cameli (Progressistas/AC), onde a oposição ao governo Lula deverá ser mais enraigada.

Nesse segundo turno, os candidatos de Bolsonaro foram derrotados no Espírito Santo (Manato/PL), em Rondônia (Marcos Rogério/PL), Alagoas (Rodrigo Cunha/União Brasil) e no Rio Grande do Sul (Onyx Lorenzoni/PL).

Algumas figuras saem maiores e outras menores.

As que se destacam são Simone Tebet (MDB/MS), Renan Calheiros (MDB/AL), André Janones (Avante/MG), Jorginho Melo (PL/SC), Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP), Guilherme Boulos (PSOL/SP), Marina Silva (Rede/SP), Marcos Pereira (Republicanos/SP), Paulinho da Força (Solidariedade/SP), Jerônimo (PT/BA) e Rogério Marinho (PL/RN).

Saem menores Sérgio Moro (União/PR), Marcos Rogério (PL/RO), Carla Zambelli (PL/SP), Onyx Lorenzoni (PL/RS), Ciro Gomes (PDT/CE), Arthur Lira (Progressistas/AL), Rodrigo Garcia (PSDB/SP) e João Roma (PL/BA).

O novo Congresso Nacional, apesar da avaliação inicial de que será mais conservador, elegeu a menor bancada evangélica desde 1999. Em tese, será um Parlamento pragmático e que deverá apoiar o próximo governo. Progressistas (PP), PL, MDB, PSDB, PSD e União Brasil, em sua grande maioria, deverão integrar a base e votar com o governo. Tanto que o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, já declarou que o partido, na próxima legislatura, deverá rachar.

Por fim, importante dizer que o próximo governo não será do PT. Será um governo de coalizão, um governo composto de muitos partidos. Nesse sentido, os petistas comandarão apenas uma fração dos ministérios, menos de dez.

Agora é aguardar as reações do presidente Bolsonaro e de seu entorno até o final do mandato. O risco imediato está aí.

André Pereira César
Cientista Político

Alvaro Maimoni
Consultor Jurídico

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