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Um ministro na chuva

Goste-se ou não, é inegável o protagonismo do ministro da Justiça, Sérgio Moro, no governo. Estrela maior da gestão Bolsonaro, ele assumiu o posto cercado de expectativas. Pouca coisa aconteceu, no entanto. Agora, "exposto" pelo chefe, corre o sério risco de ser alvejado, inclusive por supostos aliados.

A rigor, boas notícias não faltam a Moro. A mais recente pesquisa XP/Ipespe, divulgada na sexta-feira, 10 de maio, mostra que, entre as personalidades políticas, ele tem a melhor nota - 6,5. Atrás dele aparecem o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o próprio presidente Bolsonaro, ambos com 5,7.

Além disso, Moro está tendo relativo sucesso com seu Twitter, estreado há algumas semanas. Segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas, o ministro foi o mais citado na rede social, seguido pelos três filhos do presidente, que perdem espaço desde fevereiro. Em menos de um mês, Moro conseguiu 750 mil seguidores.

Só que as boas notícias param por aqui. Na prática, fora da bolha das redes sociais, o ministro coleciona derrotas que, aos poucos, colocam em xeque sua condição de "superministro".

Em primeiro lugar está o pacote anticorrupção, protocolado no Congresso Nacional com toda pompa e circunstância. As medidas saíram rapidamente de cena e são remotas as chances de que algo seja aprovado ainda nesse primeiro semestre. O pacote não empolgou os parlamentares.

Em seguida vem a pública desautorização do presidente da República que vetou a cientista política Ilona Szabó, para integrar o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), demonstrando que Moro não dispõe de tanta independência à frente do ministério da Justiça como se alardeou.

A mais recente derrota se deu na disputa do Coaf. Menina dos olhos do ministro, o órgão deixará a Justiça e voltará a seu lugar de origem, o ministério da Economia. Está claro aí que faltaram articulação e traquejo políticos a Moro na hora de negociar a questão com os parlamentares.

Por fim, ao anunciar, com mais de um ano de antecedência, que o indicará para o STF, Bolsonaro nada mais fez do que jogar o ministro aos leões. O presidente, em sua verborragia, deu espaço para os desafetos de Moro se articularem desde já. Fogo pesado não faltará. Além disso, gera um debate contraproducente que inclusive dificulta a atuação de Moro à frente da pasta.

Ao ministro restam poucas opções. Manter seu posto em um governo politicamente desarticulado e ir queimando aos poucos seu prestígio junto à opinião pública, ou pedir para sair? A única certeza é que Moro precisa sair da chuva.

André Pereira César

Cientista Político

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