Um futuro político para Bolsonaro? - Política - Hold

Um futuro político para Bolsonaro?

De volta ao Brasil após meses de autoexílio nos Estados Unidos da América, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) busca retomar o protagonismo perdido, agora na oposição. Ele assumiu publicamente a intenção, mas diversos obstáculos pelo caminho terão antes que ser superados, se quiser alcançar o seu objetivo.

Em primeiro lugar, faltam ao ex-mandatário os recursos básicos de liderança, como carisma e habilidades intelectuais. O “mito” construído no passado recente foi fruto de um processo muito específico, baseado no antipetismo, na Lava Jato e na chamada “nova política” - processo esse que já se esgotou. A rigor, Bolsonaro não é mais novidade para a opinião pública.

Além disso, existem as investigações em curso. As joias das Arábias, a participação no 8 de janeiro (o “Capitólio tupiniquim”), a própria corrupção em seu governo (vacinas contra a Covid, ministério da Educação, etc.), o genocídio do povo Yanomami, a possibilidade de se tornar inelegível pela Justiça Eleitoral, entre outros temas. A lista é extensa.

Junta-se a esse rol de problemas, a incômoda presença de ex-auxiliares. Citemos aqui três, os ex-ministros Bento Albuquerque e Anderson Torres (que se encontra preso desde o dia 14 de janeiro) e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Todos têm muito a falar, e a cada dia que passa a pressão sobre eles aumenta. Manterão a lealdade ao antigo chefe?

Some-se a isso a morna recepção a Bolsonaro quando de sua chegada a Brasília. Em seu próprio partido, o PL, o que se viu foi falta de empolgação. Mesmo o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, não pareceu disposto a bancar a presença do antigo titular do Planalto nas suas fileiras. Algo se move no PL.

Por fim, o espaço à direita do espectro político já está em disputa por outros atores da cena atual, como os governadores Romeu Zema (Novo) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) e os senadores Rogério Marinho (PL/RN) e Sérgio Moro (União/PR) - nomes com muito mais recursos em mãos que Bolsonaro, diga-se.

Fosse um filme, Bolsonaro hoje seria um misto de “Ladrões de bicicletas” com “Todos os homens do presidente”. Uma farsa cômica com toques de tragédia.

Resumo da ópera: Jair Bolsonaro foi um presidente acidental. Seu retorno ao centro da cena política é altamente improvável.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni - Consultor Jurídico

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