Sucessão presidencial: peças em movimento - Política - Hold

Sucessão presidencial: peças em movimento

Foto: Ricardo Stuckert

É do conhecimento geral que a sucessão presidencial foi antecipada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Nos últimos dias, diversos atores envolvidos no processo avançaram suas peças, na tentativa de marcar posição e conquistar espaço.

O próprio titular do Planalto vem baseando desde sempre as suas ações nas eleições do próximo ano. Sentindo-se acuado pela CPI da Covid, em funcionamento no Senado Federal, ele recorreu a um conhecido expediente: soltou frases de impacto na imprensa e apoiou as mais recentes manifestações populares em defesa de seu governo. Bolsonaro em estado puro.

Ao insinuar que poderia assinar decreto para impedir que gestores estaduais e municipais limitem a atividade econômica por conta da pandemia, Bolsonaro provocou o Supremo Tribunal Federal (STF). “Se eu baixar um decreto (…) não será contestado por nenhum tribunal”. Indo além, ele sugeriu que a Covid-19 foi criada pela China, em uma espécie de “guerra biológica”. O governo chinês, importante parceiro comercial brasileiro, criticou duramente as declarações. Para o presidente, pouco importam as reações - ele atingiu seu eleitor mais fiel.

E foi além. Em sua live semanal no FaceBook na quinta-feira, 6 de maio, Bolsonaro voltou a defender o voto impresso e fez duras críticas ao ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, por ser contrário à ideia da impressão de votos. Na transmissão, o titular do Planalto afirmou que “se o Parlamento brasileiro, por maioria qualificada, três quintos da Câmara e Senado, aprovar e promulgar, vai ter voto impresso em 2022 e ponto final. Não vou nem falar mais nada. Vai ter voto impresso, porque, se não tiver voto impresso, é sinal de que não vai ter eleição.” A radicalização no atual momento político e econômico diz muito. O momento é para se observar se será apenas mais uma retórica presidencial ou se de fato partirá para a implementação dessas ideias.

No lado oposto, o ex-presidente Lula (PT), de volta ao jogo sucessório, entrou definitivamente em campo. Em um périplo por Brasília, ele se reuniu com importantes lideranças políticas, como o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab (hoje aliado de Bolsonaro), o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que está trocando o DEM pelo PSD, e o ex-presidente e decano do MDB, José Sarney. Outros nomes constam da agenda do petista, como o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira, integrante da tropa de choque governista na CPI. Lula parece disposto a atacar o governo Bolsonaro por dentro.

O ex-presidente também assumiu um discurso em defesa de questões de grande impacto para a população, como o estabelecimento do valor de R$ 600 para a ajuda emergencial e a melhora na distribuição das vacinas contra a Covid-19. A estratégia de Lula é clara - caminha para o centro do espectro político e tenta reforçar a imagem de estadista.

Já a chamada Frente Ampla Democrática segue tateando o terreno em busca de uma plataforma mínima e um nome (ou nomes) com consistência eleitoral. O neopedetista Ciro Gomes apostou suas fichas em uma parceria com o polêmico marqueteiro João Santana, ex-colaborador do PT. Nas primeiras peças divulgadas, o pré-candidato ataca as gestões petistas, afirmando que o Brasil precisa de algo melhor para sair da atual situação. No limite, Ciro Gomes inviabiliza uma futura negociação com o PT.

Luiz Henrique Mandetta (DEM/MS), ex-ministro da Saúde, também teve bastante exposição nos últimos dias. Ao depor na CPI da Covid, ele criticou duramente a atuação do presidente Bolsonaro durante os primeiros meses da pandemia. O tom de sua fala deixou evidentes suas intenções - aparecer para o eleitorado como alguém preparado e ponderado. Em tese atingiu seu objetivo, mas isso não é suficiente para que ele assuma uma candidatura nacional. Outros atributos são igualmente necessários.

O governador de São Paulo, João Dória (PSDB), apesar de alguns tropeços e de uma certa resistência dentro do próprio partido, continua no páreo, aproveitando cada deslize do Planalto para fazer o contraponto e se colocar como uma solução as mazelas nacionais. As polêmicas declarações de Bolsonaro, na última semana, como não poderiam deixar de ser, foram exploradas por Dória.

O jogo sucessório segue ganhando escala. Faltando pouco menos de dezessete meses para o primeiro turno, as pré-candidaturas começam a ganhar forma. Resta saber quais nomes chegarão com fôlego a 2022.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

Comments are closed.