Sucessão presidencial: o movimento das peças continua - Política - Hold

Sucessão presidencial: o movimento das peças continua

Foto: Ricardo Stuckert

Faltando dezesseis meses para o primeiro turno das eleições de 2022, a disputa presidencial já é uma realidade. Os principais atores políticos movimentam-se abertamente e o quadro geral sofre mudanças diárias.

Pesquisas - confirmando os resultados do mais recente levantamento do DataFolha, a recém-publicada pesquisa Exame/Ideia mostra o ex-presidente Lula à frente de Jair Bolsonaro (sem partido). O petista receberia 45% dos votos, contra 37% do atual presidente. Na pesquisa espontânea, Luta teria 19% e Bolsonaro, 17%.

O levantamento reafirma um quadro já conhecido. A polarização Lula-Bolsonaro vai se cristalizando, enquanto as forças de centro não conseguem ganhar musculatura política.

Bolsonaro sem partido - o tempo corre e a demora do presidente em definir uma legenda para disputar o pleito do próximo ano já incomoda seus aliados. Há um claro impasse no processo em curso - Bolsonaro deseja ter o controle total sobre o partido ao qual se filiará, postura que incomoda a muitos. Assim, agremiações chamadas “nanicas”, como PRTB e Patriota, já fecharam suas portas ao titular do Planalto. Até mesmo o Republicanos, que conta com dois bolsonaros em suas fileiras – Flávio e Carlos – negou a manobra pretendida pelo pai, Jair.

No momento, as conversas fluem melhor com o PP. Ciro Nogueira avalia os prós e contras. A definição do partido ao qual Bolsonaro se filiará terá impacto não somente na sucessão presidencial, mas também nas disputas regionais. Por isso a importância e a cobrança de seus aliados por uma rápida definição.

Lula em campanha - em movimentação aberta, o petista assumiu, pela primeira vez desde que recuperou os direitos políticos, que disputará a presidência em 2022. Em entrevista ao jornal Paris Match, Lula afirmou que será “candidato contra Bolsonaro”.

A rigor, a declaração do ex-presidente não causa surpresa. Ele vem intensificando as conversas com lideranças partidárias e empresários, entre outros, na tentativa de estabelecer uma base sólida para sua candidatura. Só que essa manifestação, vinda do próprio Lula, mexe com as peças do tabuleiro da política e coloca em campo aliados que aguardavam apenas um sinal para começar os trabalhos de construção de alianças.

Investigações - a CPI da Covid, em curso no Senado Federal, não é o único assunto a incomodar o Planalto. A recente operação da Polícia Federal contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por suposto envolvimento em exportação ilegal de madeira, e as denúncias sobre a existência de um “orçamento paralelo” no valor de R$ 3 bilhões, abrem novas frentes de crise política para o governo.

O custo político é alto para o presidente. No limite, se não explodirem antes, esses temas serão utilizados na campanha eleitoral que se avizinha, com elevado potencial de desgaste para Bolsonaro.

Movimentos na Câmara dos Deputados - montados durante o processo que definiu o nome do deputado Arthur Lira (PP/AL) para a presidência da Casa, os blocos partidários já começam a sofrer alterações. O pontapé inicial foi dado pelo MDB, que deixou o megabloco que sustenta o parlamentar e se juntou ao Cidadania - essa aliança entre as duas legendas, diga-se, não se restringe à Câmara.

Agora, outros partidos começam a seguir o mesmo caminho. PSDB, PSD e outros devem se desligar nos próximos dias, em um movimento que tem impacto direto não só sobre a agenda legislativa, mas também na política nacional como um todo.

Coincidência ou não, esse movimento partidário vinha sendo notado após a definição, pelo STF, de que o ex-presidente Lula poderia disputar as eleições de 2022. Mas, após a citada entrevista ao jornal Paris Match, esse movimento foi acelerado.

Movimentações partidárias - já se detecta uma intensa troca partidária em todo o país. No momento, o DEM, em meio a uma crise interna, é o grande perdedor. Deixaram o partido o deputado Rodrigo Maia e o prefeito Eduardo Paes, que migraram para o PSD de Gilberto Kassab, levando consigo outros deputados, prefeitos e vereadores. Também saiu da legenda o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, agora no PSDB, e fala-se que o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, seguirá rumo ao PSD.

Na esquerda, o PSOL registra duas baixas significativas. O ex-deputado Jean Willys ingressou no PT, enquanto o deputado Marcelo Freixo está de malas prontas para o PSB.

Considerações finais - é inegável que a sucessão presidencial, iniciada de maneira prematura por Bolsonaro – que hoje deve se arrepender por essa antecipação –, definitivamente ganha escala. A partir de agora, toda estratégia político-partidária estará voltada para o pleito do próximo ano. As alianças regionais que definirão os apoios aos candidatos à presidencia estão à todo vapor.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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