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Sucessão presidencial: a política em busca do centro

Os últimos dias foram marcados por uma série de entrevistas de atores políticos relevantes, analisando o Brasil de agora. Em comum, os senadores Renan Calheiros (MDB/AL), Fernando Bezerra Coelho (MDB/PE) e Jaques Wagner (PT/BA), o deputado Rodrigo Maia (PSD/RJ), o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB/RJ) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, têm um objetivo claro - aproximar-se do centro político.

Amigo e confidente de Lula (PT) e um dos principais quadros do partido, Jaques Wagner é enfático - o ex-presidente “já é de centro” e buscará “um nome do meio empresarial” para compor a chapa em 2022. A declaração do senador confirma o que já se nota nas movimentações do petista, que acenou ao empresariado. Busca-se aqui a repetição da campanha de 2002, que teve no vice José Alencar uma figura fundamental para a vitória de Lula.

Em linha com Wagner, Rodrigo Maia reforça sua aposta no centro e reavalia sua posição em relação ao PT - hoje ele revê a sua posição e não faz mais oposição total ao petismo, em uma evidente sinalização de que, no limite, poderá apoiar Lula contra Bolsonaro. Antes, porém, insistirá em uma candidatura de centro, dentro de seu projeto pessoal de disputar o governo do Rio de Janeiro em 2022.

Relator da CPI da Covid, Renan Calheiros está em franca campanha contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Prova disso foi sua reaproximação com Lula e a avaliação positiva que fez do encontro entre o petista e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Na avaliação do senador, o único extremo na política brasileira de hoje diz respeito ao titular do Planalto. Resumindo, o emedebista pode contribuir para trazer o PT ainda mais para o centro político.

No âmbito do governismo, o líder do governo no Senado Federal, Fernando Bezerra Coelho, faz veementemente defesa de Bolsonaro. Segundo ele, a agenda econômica avança bem, listando proposições aprovadas como a reforma da Previdência e a autonomia do Banco Central. Indo além, ele compara o desempenho da economia brasileira com a de outros países, que registraram queda maior do PIB. Certamente o senador deseja trazer seu partido, o MDB, para as fileiras governistas, na tentativa de moderar o discurso bolsonarista. Não será tarefa fácil. No caminho, Eduardo Braga (MDB/AM) e o próprio Renan como membros da CPI da Covid.

“Agora vem eleição? Vamos para o ataque.” Também em nome do governo, Paulo Guedes tem percepção similar ao líder no Senado. O ministro avalia que a economia está bem e o país pode “bombar” em breve. Para isso, prepara um pacote de medidas para melhorar o ambiente geral. Guedes reconhece que os liberais perderam espaço ao longo da gestão Bolsonaro, mas suas propostas não sofreram alterações. Otimista ao extremo, o ministro passa a impressão de que a reeleição do atual presidente está assegurada. As pesquisas, no entanto, mostram outra realidade.

O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que se aproxima de seu antigo pupilo, o deputado e atual presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP/AL), por sua vez, retornou ao noticiário com o recente lançamento de suas memórias. Cunha não acredita no impeachment de Bolsonaro, pois não haveria “vontade política” para tal. Ele afirma ainda que a disputa se dará mesmo entre o atual presidente e Lula, sem chances para uma terceira via, na mesma linha defendida pelo senador Fernando Bezerra Coelho. Há evidente má vontade do ex-deputado com o PT - ele considera Bolsonaro melhor presidente que Dilma Rousseff. Esse posicionamento pode tornar suas análises enviesadas.

Enfim, trata-se de importante mosaico da atual quadratura, depois das recentes pesquisas e do avanço da CPI da Covid. Cada um dos entrevistados representa um bloco político e, à exceção de Cunha, todos estarão diretamente envolvidos nas eleições do próximo ano.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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