Sucessão na Câmara: muito barulho por (quase) nada - Política - Hold

Sucessão na Câmara: muito barulho por (quase) nada

Faltando poucos dias para as eleições que definirão as novas Mesas Diretoras do Congresso Nacional, a expectativa é grande. Na Câmara dos Deputados, em especial, os dois principais candidatos intensificaram o corpo a corpo junto a seus pares. A pergunta do momento é - existem grandes diferenças entre Baleia Rossi (MDB/SP) e Arthur Lira (PP/AL)?

Origens: os dois candidatos são oriundos de famílias com tradição na política - o pai de Rossi foi ministro e o de Lira, senador. Além disso, ambos fizeram carreira no legislativo estadual antes de chegarem à Câmara - por sinal, Rossi é o atual presidente nacional do MDB. Portanto, estão longe de ser outsiders

Processos: tanto Rossi quanto Lira enfrentam processos na Justiça. O emedebista foi citado em operação da Polícia Federal sobre fraudes em licitações em Ribeirão Preto (SP), sua base política. Ele também foi citado em operação sobre a “máfia das merendas” no estado de São Paulo e teve seu nome incluído em planilha de caixa 2 do empresário Joesley Batista.

Lira, por sua vez, responde a dois processos no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto crime de corrupção passiva. Ele também responde a inquérito do “quadrilhão do PP”, desdobramento da Lava Jato. Há ainda o caso envolvendo suposta violência doméstica contra sua ex-esposa, em 2006, que o acusou também de ocultar bens - ela mudou seu depoimento anos depois.

Relação com Bolsonaro: não importa o vencedor, o relacionamento entre Legislativo e Executivo seguirá dentro da institucionalidade, sem maiores arroubos por parte do novo comandante da Câmara.

Importante lembrar aqui que, ao longo do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), tanto Rossi quanto Lira têm votado majoritariamente a favor das propostas do Planalto. Esse quadro tende a se manter.

Impeachment: o candidato do MDB já declarou que a eventual análise de pedidos de impeachment do presidente da República estará em seu radar. Contrário à posição de Lira, que sinaliza, hoje, que pode barrar tais pedidos.

Aqui cabe um detalhe importante. Como se sabe e a história já demonstrou, o afastamento de um presidente é resultado de um processo político que envolve toda a sociedade. Assim, mesmo que Lira tente segurar tais movimentos, a pressão externa pode forçá-lo a mudar de posição. Tudo dependerá da evolução dos fatos.

Reformas: tanto Rossi quanto Lira sabem da necessidade de se avançar com a agenda de reformas. No caso do emedebista, a reforma tributária deve ser seu alvo inicial, devido ao fato de uma das propostas em discussão (PEC 45) ser de sua autoria. Já Lira tende a priorizar a reforma administrativa, que ainda não começou a ser efetivamente discutida pelos deputados.

Com relação à pandemia, independente do vencedor, projetos voltados para o combate deverão ser pautados.

Ambas candidaturas têm sintonia com a agenda do Planalto e da equipe econômica comandada por Paulo Guedes.

O futuro de Rodrigo Maia (DEM/RJ): principal fiador da candidatura Rossi, o atual presidente da Casa apostou todas as fichas na disputa. Para ele, o risco é grande. Em caso de vitória, ele sairá como a principal liderança parlamentar em atividade; do contrário, retornará à planície não como apenas mais um parlamentar por ser um ex-presidente da Casa, mas terá que se adaptar aos novos tempos e verá seu peso político questionado no DEM.

Um detalhe - apesar da permanente rusga com Bolsonaro, Maia foi muito importante para o avanço da agenda governista nos últimos anos - basta lembrar a reforma da Previdência e o auxílio emergencial, aprovados apesar da ação do governo. Ao longo da sua gestão, a Câmara se viu longe de crises e teve relativa paz. Podemos afirmar que a gestão Maia foi a melhor presidência que um titular do Planalto já teve.

Enquanto isso, no Senado…: entre os senadores, a candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM/MG) ganha a cada dia mais musculatura política. Um claro indicativo disso foi o movimento de sua adversária, Simone Tebet (MDB/MS) - sem apoio, mesmo dentro de seu partido, ela passou a disputar a eleição na condição de “avulsa”.

Pacheco conta com a simpatia do Planalto. Esse fato não impediu que o PT declarasse apoio ao demista. A explicação é simples - Pacheco, caso vença, buscará a unidade da Casa e não deverá apoiar uma agenda de costumes ao gosto do presidente Bolsonaro e muito menos encampará teses lavajatistas.

Considerações finais: como se vê, há mais semelhanças que diferenças entre os dois candidatos ao comando da Câmara. Trata-se basicamente de uma disputa entre dois grupos políticos distintos, mas com posições convergentes. Pouco mudará em relação ao quadro atual.

André Pereira César
Cientista Político

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