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Sobre rupturas e confrontos

A crescente beligerância entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o Judiciário parece ter atingido um ponto sem retorno. Ao apresentar o pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, o titular do Planalto queimou as últimas pontes. Agora, resta aguardar o simbólico 7 de setembro, data esperada para um possível confronto entre governistas e oposição.

Exagero na análise? Os fatos correntes dizem que não. Prova disso está na recente mobilização de ex-presidentes da República, que conversaram com militares de alta patente para sentir o ambiente na caserna. “Nessun dorma” em Brasília.

Mesmo os militares estão preocupados com o quadro. Entre as três Armas a avaliação geral é a de que o presidente deseja o confronto. A visão é correta. Manter a base mobilizada, numa eterna campanha política, faz parte da essência do bolsonarismo. A palavra “conflito” integra o léxico do atual grupo no poder.

Como consequência imediata, a agenda legislativa perde protagonismo e cai para o terceiro plano. As reformas tributária e administrativa, complexas por natureza, perdem tração e a esperada recuperação econômica sai do radar. Até mesmo a minirreforma eleitoral, menina dos olhos de Arthur Lira (PP/AL), sofre forte resistência e corre o sério risco de não ser aprovada pelo Senado Federal. A refrega atingiu em cheio a até então boa relação entre as Casas.

Nesse sentido, a reunião do Fórum dos Governadores, com a presença confirmada de 24 governadores, ganha relevância. Mais do que discutir uma agenda para o país, os comandantes dos estados buscam soluções para a jovem e ameaçada democracia brasileira.

E o Centrão, neoaliado de Bolsonaro? Até agora, o bloco pouco fez. Lira, presidente da Câmara dos Deputados, e o ministro Chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP/PI), não conseguem desempenhar o papel de amortecedores dessa crise política. Pior, conhecendo-se o modus operandi do Centrão, não será surpresa um progressivo distanciamento de seus integrantes do presidente da República. Trata-se de questão de tempo.

Para onde caminhamos? As próximas semanas assistirão a uma escalada da crise, que atingirá seu ápice no famigerado 7 de setembro. Nada será como antes depois dessa data, para o bem ou para o mal.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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