Sérgio Moro na encruzilhada - Política - Hold

Sérgio Moro na encruzilhada

Uma das apostas da chamada “terceira via” para a sucessão presidencial, o ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) vive seu pior momento desde que iniciou os movimentos de pré-campanha, em novembro do ano passado. Sem empolgar o eleitorado e o mundo político em geral, sua candidatura começa a ser abertamente questionada. Afinal, para onde vai Moro?

Aos fatos. O ex-ministro do governo Bolsonaro não ganha tração nas pesquisas e ainda não atingiu os dois dígitos de intenção de voto. Pior, enfrenta a ameaça crescente do neopedetista Ciro Gomes, que passou a atacar mais o pré-candidato do Podemos. A expectativa original de que Moro “decolaria” virou pó, e a nova realidade já incomoda os aliados.

Por falar em aliados, é notório o amadorismo de seu comando de campanha. A estrutura montada em torno de Moro é pobre, com profissionais que desconhecem os meandros da política brasileira e políticos sem experiência em grandes embates. Muito pouco para quem se apresenta como “nem Lula, nem Bolsonaro”.

Aqui caímos em outro elemento, a rejeição de parte do establishment político a Moro. Sua atuação à frente da Operação Lava Jato, da qual se tornou símbolo, gerou desafetos em diversos partidos, entre eles potenciais aliados como parlamentares do União Brasil, do PSDB, do MDB e do Centrão. O resultado disso é um só - portas fechadas para composições, o que, no limite, pode deixá-lo com tempo exíguo para propaganda em rádio e televisão, além de problemas nos palanques estaduais.

Por fim, o carro-chefe de Moro, o combate à corrupção, perdeu espaço na agenda da sociedade brasileira, que em tempos de pandemia está mais preocupada com a economia e a saúde. A mais recente pesquisa Genial/Quaest, divulgada dias atrás, mostra o combate à corrupção como principal problema do Brasil para apenas 11% da população.

Os adversários, é claro, captaram as fragilidades do presidenciável e já voltaram a artilharia para ele. Além de Ciro Gomes, vários aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) passaram a acusar Moro de “traição”, pelo modo como deixou o governo. No PT, a situação é idêntica - uma das principais lideranças do partido, o senador Jaques Wagner, afirmou ao jornal O Globo nessa segunda-feira, 14, que “o melhor adversário para enfrentar o Lula no segundo turno é o Moro. Porque o Moro é a mentira que fica cada vez maior”.

Assim, a candidatura presidencial de Sérgio Moro perde musculatura e seu plano B começa a ganhar contornos mais nítidos no horizonte - uma vaga no Legislativo. Seja uma cadeira no Senado Federal ou na Câmara dos Deputados (essa última politicamente mais viável), o ex-ministro já repensa seu futuro imediato.

André Pereira César
Cientista Político

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