Uma crise no meio de outra crise - Política - Hold

Uma crise no meio de outra crise

Não bastassem os desafios enfrentados pelo governo Lula (PT) por conta da tragédia humanitária no Rio Grande do Sul, uma nova frente de batalha foi aberta. A mudança no comando da Petrobras, com a saída de Jean Paul Prates (PT/RN), mostra uma gestão ainda em busca de soluções para questões que vem sendo conduzidas de maneira claramente equivocada.

Resumindo, Prates vinha sendo pressionado pelos ministros da Casa Civil, Rui Costa (PT/BA), e de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD/MG) - homem da extrema confiança do presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), diga-se. Não por acaso, o agora ex-presidente da Petrobras saiu atirando nas duas personagens que foram responsáveis por sua queda.

Na verdade, a indicação de Magda Chambriard, ex-presidente da ANP, para o cargo, apesar do verniz técnico, não muda o quadro. A petroleira continuará a sofrer as mesmas tentativas de interferência política do governo que se viu durante a administração de Prates. Costa e Silveira seguirão como os senhores da situação. Talvez seja esse um dos principais motivos da brusca e intempestiva mudança no comando.

Cabe aqui discutir o timing da decisão de demitir o presidente da Petrobras. Em plena guerra contra a tragédia gaúcha, com os impactos humanos e financeiros ainda por se conhecer, com todos os olhos do país voltados para o Rio Grande do Sul (e com a mobilização da sociedade para ajudar a população daquele estado), Lula age de maneira algo temerária. A princípio, passa a impressão de que não está plenamente seguro de suas posições. Governo à deriva?

Fala-se muito, inclusive nesse espaço, da baixa qualidade da comunicação do grupo que está no Planalto. Nesse sentido, o presidente da República fez outro movimento para tentar estancar a crise ao indicar o agora ex-ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta (PT/RS), para representar o governo nos trabalhos no Rio Grande do Sul. Como se sabe, ele é adversário político do governador Eduardo Leite (PSDB) - que também vem cometendo erros crassos na crise - e não se sabe como se dará a interlocução entre os governos federal e estadual. A indicação em si está sendo alvo de duras críticas, inclusive dentro do próprio PT. A oposição no Congresso Nacional já se mobiliza para boicotar as ações de socorro ao Rio Grande do Sul enquanto vigorar a indicação de Pimenta. Uma nova camada da crise pode estar em gestação.

Quem substituirá Pimenta na comunicação do governo? Não importa o nome, mais importante será a capacidade do novo integrante de melhorar o diálogo entre o Planalto e a opinião pública como um todo. Não será fácil fazer o elefante se movimentar na sala de cristais.

Enfim, há muito a se ajustar em todo esse cenário. O titular do Planalto sabe que a crise gaúcha pode se tornar uma bomba a cair em seu colo - e a Petrobras vem a se somar a esse caldo intragável. O momento não aceita soluções amadoras, mas algo nesse sentido pode estar se desenhando.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni - Consultor Jurídico

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