Rio Grande do Sul, Fake News e desinformação: uma reflexão - Linha de Pensamento - Hold

Rio Grande do Sul, Fake News e desinformação: uma reflexão

Os trágicos eventos no Rio Grande do Sul levam a uma triste constatação. Ao se fazer um paralelo, é possível afirmar que a sociedade brasileira, Justiça incluída, não está minimamente preparada para enfrentar o que virá nas próximas eleições, de 2024 e 2026. A disseminação de fake news nas redes sociais sobre esses trágicos eventos, comprova essa realidade.

Ao contrário do que inicialmente se esperava, a polarização (calcificação) se instalou de maneira permanente no país. Nem um fato dramático como o enfrentado pelos gaúchos foi capaz de mudar essa realidade. O que se vê é o inverso - um festival de desinformação e mentiras perpetrados pelos mais radicais representantes da extrema-direita, de prefeitos gaúchos, passando pelo governador de Santa Catarina, parlamentares e “influencers”. Ninguém poupou o momento. Todos foram atrás do seu “naco”, não importando as consequências.

A situação é tão grave, que a imprensa, de um modo geral, se uniu no combate à disseminação dessas notícias falsas. Órgãos de controle como o Ministério Público e a Advocacia-Geral da União entraram em campo junto com a Polícia Federal no intuito de identificar e responsabilizar civil e penalmente aqueles que, de forma irresponsável e desumana, buscam se locupletar em cima de uma verdadeira tragédia humana.

Um exemplo é a última pesquisa do instituto Quaest. Segundo o levantamento, realizado entre 2 e 6 de maio, 31% dos entrevistados afirmaram ter recebido alguma notícia falsa sobre a tragédia gaúcha. Aqueles que receberam alguma informação inverídica foram questionados quais meios de propagação foram utilizados. No geral, grupos de WhatsApp (35%) lideram o ranking, seguidos por amigos (24%) e algum político (11%).

Esse quadro inevitavelmente deságua no governo Lula (PT), especialmente entre os jovens. De acordo com a pesquisa, na faixa de 16 a 34 anos, 50% reprovam o trabalho do presidente, enquanto 47% aprovam. Entre os mais velhos, acima de 60 anos, o resultado é outro - 57% de aprovação e 40% de rejeição.

Esses números indicam que o eleitor de menor idade, majoritário nas redes sociais, está mais exposto às notícias falsas e aos boatos. Um claro sinal de que o governo precisa melhorar a comunicação com esse grupo com urgência.

O país nunca havia enfrentado um desastre humanitário como esse. Tragédias sempre existiram, mas sempre restritas a determinadas cidades, áreas ou locais. Um evento como esse, onde um estado da federação foi atingido quase na sua totalidade - 447 das 497 cidades gaúchas foram afetadas pelas tempestades, o equivalente a 89,9% do total dos municípios - jamais tinha acontecido.

A resposta dos governos (municipais, estadual e federal) foi rápida. Centros de comando ajudam a gerenciar a crise. Apesar de todos os esforços oficiais e de toda ajuda voluntária, alguns mais radicalizados e de olho nos espólios eleitorais, decidiram agir a partir das profundezas das redes sociais. O atual governo federal jamais poderá ser um dos responsáveis pela ajuda e reconstrução do estado do Rio Grande do Sul. Simples assim. Afinal de contas, as eleições estão bem aí.

Famílias divididas, amigos conflagrados. A sociedade está em um estágio relativamente novo, diferente de outros tempos. Basta lembrar do período em que PSDB e PT eram os grandes protagonistas da cena política. O debate era muito mais qualificado. Hoje é raso.

A tendência é a de que esse quadro persista por muito tempo. As eleições municipais, no segundo semestre, medirão a temperatura e, a rigor, deverão mostrar um cenário de radicalização apoiado na disseminação de fake news. O fato é um só - a democracia sai fragilizada.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni - Consultor jurídico

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