Paulista, 25 de fevereiro: o antes, o agora e o depois - Política - Hold

Paulista, 25 de fevereiro: o antes, o agora e o depois

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) viveu momentos de grande tensão (e pressão) nas últimas semanas, que culminaram com os depoimentos à Polícia Federal (PF) na quinta-feira última – ao mesmo tempo em que o establishment dava posse a Flávio Dino, novo ministro do Supremo Tribunal Federal. Até aí, nada de novo. A opinião pública em geral acompanha as investigações em curso e, em larga medida, tem plena noção da gravidade do que foi até agora apurado - e sabe-se lá o que ainda pode vir à tona.

Dito isso, a mobilização em torno do evento de 25 de fevereiro na Avenida Paulista mostrou que o bolsonarismo continua a ser uma força política não desprezível. Ao contrário, a ultradireita brasileira, emulando o trumpismo nos Estados Unidos, segue viva. E pulsando.

A princípio, acreditava-se que o ato seria um fiasco. As primeiras imagens, registradas na icônica avenida na capital paulista no final da manhã de domingo, reforçavam essa percepção. Ledo engano. Ao longo da tarde, a ultradireita marcou presença e, de algum modo, deu sobrevida ao bolsonarismo. Ao menos por ora.

Os fiadores do evento falam em cerca de 750 mil pessoas presentes. Um estudo da USP, por outro lado, aponta 185 mil almas espalhadas pelos sete quarteirões que concentraram o público na tarde de domingo. A precisão dos números pouco importa. A foto estava feita, e Bolsonaro demonstrou que ainda tem capacidade de mobilizar setores da sociedade brasileira. Para o bem e para o mal.

Evidentemente, o ex-presidente esteve na defensiva. Ele negou ter participado de qualquer tentativa de golpe de Estado e, indo além, pediu anistia para os presos (e para os já condenados, diga-se) pelos atos de 8 de janeiro de 2023. Tudo dentro do script, com Bolsonaro tentando mostrar seu lado moderado. Convence?

Cabe aqui registrar a presença de figuras como o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto – que, por questões legais, se retirou antes da chegada de Bolsonaro – , do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), e dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União Brasil), que claramente jogaram para suas claques. O tempo dirá se acertaram ou não.

E o depois?

Há questões delicadas, tanto no âmbito político quanto no legal. De saída, um grupo de parlamentares ingressou com ação no Ministério Público de São Paulo, alegando uso indevido de prédio público (Palácio dos Bandeirantes), afirmando que o governador Tarcísio viola a impessoalidade e a imparcialidade da gestão. De fato, sabe-se que Bolsonaro usou o “espaço” como base para o evento.

Mais ainda, o ex-presidente, ao admitir a existência da chamada “minuta do golpe”, falou na Paulista o que deixou de responder à PF na última quinta-feira. Um elemento complicador para sua já difícil situação com a Justiça.

Enfim, mais um (importante) passo foi dado. Ao mesmo tempo que demonstra certo capital político, Bolsonaro se expõe perante o Judiciário e à opinião pública. O jogo segue sendo jogado. Quem dá mais?

André Pereira César

Cientista Político

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