Os ventos que movem o moinho - Política - Hold

Os ventos que movem o moinho

Apesar dos muitos problemas enfrentados pelo governo, boa parte deles gestados no próprio Planalto, há setores que estão a todo vapor, fazendo a máquina pública se mover. Quatro ministros, em especial, têm conduzido bem o comando de suas pastas, mesmo em tempos de pandemia.

Tereza Cristina (Agricultura) - deputada federal licenciada, a engenheira agrônoma e empresária Tereza Cristina (DEM/MS) coloca em prática, em sua pasta, toda a experiência obtida quando comandava a Frente Parlamentar da Agricultura na Câmara dos Deputados. Desde que assumiu o ministério, no início de 2019, ela tem se colocado como uma espécie de anteparo à ala ideológica do governo Bolsonaro que, entre outras coisas, defende o rompimento de relações comerciais do Brasil com importantes parceiros.

Exemplos não faltam. Os países árabes e o Irã, grandes consumidores de produtos agrícolas brasileiros, sentiram a ação de aliados do presidente Bolsonaro. Pior foi o caso da China, fundamental para o agronegócio (mas não só), que tem sido recorrentemente atacado por essa ala mais ideológica. Em todos esses casos, a ministra atuou como bombeira, sempre evitando maiores danos para os interesses do país.

Pragmática, comenta-se que ela já cogitou, mais de uma vez, da possibilidade de pedir demissão do cargo. Para o bem do presidente Bolsonaro, ela ainda não o fez.

Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) - o engenheiro e militar Tarcísio de Freitas, capitão da reserva do Exército, é uma grata surpresa do governo Bolsonaro. Ele utiliza sua experiência do período em que foi consultor legislativo da Câmara dos Deputados para enfrentar os desafios de uma das pastas mais complexas.

Uma das linhas mestras de ação à frente da Infraestrutura é a realização de leilões no setor para atrair investidores estrangeiros. É evidente que a pandemia atrapalhou boa parte dos planos, mas o projeto segue em pé. Além disso, ele defende a criação de empregos via obras públicas. É, juntamente com os ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Walter Braga Netto (Casa Civil), formulador do Projeto Pró-Brasil, que deverá ser implementado pelo governo no período pós-pandemia.

O ministro sabe que, hoje, o investidor olha o Brasil com desconfiança, e esse é, sem dúvida, o grande obstáculo que deverá ser superado para obtenha êxito em seu atual posto.

Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) - economista e ex-deputado federal (PSDB/RN), foi secretário especial da Previdência e do Trabalho antes de assumir a atual pasta. Ele foi sem dúvida peça chave para a aprovação da reforma da Previdência, em 2019, em parcerias com o ministro da Economia, Paulo Guedes e com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM/RJ).

Essa parceria hoje está abalada em função do chamado Projeto Pró-Brasil, de retomada do desenvolvimento e fortemente defendido por Marinho. O programa foca especialmente em habitação e saneamento e vai contra a política fiscalista de Guedes. Os dois chegaram a se alfinetar na famosa reunião do dia 22 de abril.

O fato é que o ministro do Desenvolvimento Regional é um hábil negociador e mantém excelente interlocução com o Congresso Nacional. Essa habilidade, rara entre seus colegas de governo, certamente desperta ciúmes.

Paulo Guedes (Economia) - à despeito de seu comportamento por vezes tido como arrogante, o polêmico “Posto Ipiranga”, alvo de críticas de todos os lados, tem atuado bem em algumas frentes.

Para além das reformas estruturais, que ele pretende ver retomadas pelo Parlamento tão logo a pandemia seja superada, ele defende uma reformulação do Bolsa Família, que passará a se chamar Renda Brasil e será mais abrangente que o atual. Guedes também apoiou a prorrogação do benefício emergencial de R$ 600,00 por mais dois meses. É pouco, mas trata-se de ajuda fundamental para quem precisa.

A defesa na manutenção desses programas sociais por Guedes deve ser vista com bons olhos porque, num país com realidades sociais tão diferentes, continuará a ajudar quem de fato mais precisa.

André Pereira César

Cientista Político

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