Os riscos no caminho para a sucessão presidencial - Política - Hold

Os riscos no caminho para a sucessão presidencial

As dificuldades enfrentadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa sucessória não se restringem à sua baixa popularidade e à força política de seu principal adversário hoje, o ex-presidente Lula (PT). O Centrão e outros grupos políticos de centro-direita podem abandonar de vez o titular do Planalto, caso a candidatura não ganhe tração. Sinais desse potencial afastamento não faltam.

PL e Valdemar Costa Neto - o partido que recentemente filiou Bolsonaro não está unido em torno do presidente. A desfiliação do vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos, evidencia essa realidade. O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, também mantém uma relação tensa com o presidente da República, inclusive com troca de farpas em público. Costa Neto, aliás, trabalha para eleger uma bancada numerosa de deputados, em especial nas regiões Sul e Sudeste. O risco de “cristianização” da candidatura presidencial não pode ser descartado.

PP e Ciro Nogueira - principal ministro do governo Bolsonaro, dono da chave do cofre, Ciro Nogueira trabalha para fortalecer a bancada de seu partido na Câmara dos Deputados nas eleições de outubro. Recentemente, em evento político no qual foram anunciadas as pré-candidaturas por ele apoiadas em seu estado, o Piauí, o nome do presidente da República não foi citado. Pragmáticos, o ministro e o PP podem simplesmente abandonar o titular do Planalto e migrar para outro nome (em alguns estados, isso inevitavelmente ocorrerá). Afinal, o partido já conquistou importantes recursos do governo federal, podendo tomar outro rumo em breve.

Republicanos e Igreja Universal - terceira força do Centrão, o partido comandado pelo deputado Marcos Pereira tem no ministro da Cidadania, João Roma, seu principal representante na Esplanada. Mesmo assim, a legenda sente que foi “alijada” do núcleo decisório e, por isso, estuda não apoiar Bolsonaro nas eleições. A Igreja Universal do Reino de Deus, braço evangélico dos Republicanos, está dividida entre o atual mandatário e o ex-presidente Lula. Confirmado o afastamento, o titular do Planalto perderá apoio de importante segmento de seu eleitorado.

Gilberto Kassab - o presidente nacional do PSD tem planos ambiciosos para as eleições de outubro próximo. Operando há tempos, ele insiste na candidatura própria (por ora, o senador Rodrigo Pacheco, que resiste) e se fecha em copas quando perguntado sobre apoiar um nome de outra legenda. No entanto, ele trabalha para que o ex-governador Geraldo Alckmin ingresse em seu partido e, a partir disso, possa selar o apoio formal a Lula. Não por acaso, Kassab apareceu nas comemorações pelo aniversário de 42 anos do PT e afirmou que “todos temos orgulho das realizações e do legado que o PT já nos deixou”. Recado mais claro, impossível.

União Brasil - o novo partido, fruto da fusão entre o DEM e o PSL, nasceu dividido, mas também tem objetivo claro - eleger uma bancada numerosa e, no limite, eleger o próximo presidente da Câmara dos Deputados. Apesar de, em tese, existirem afinidades programáticas e ideológicas com Bolsonaro, a tendência da legenda é se afastar mais e mais do Planalto. Inclusive, nomes importantes da ala bolsonarista do PSL, como os deputados Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, migrarão em breve para outra agremiação. O União Brasil definitivamente apoiará uma candidatura de oposição.

Considerações finais - todas as forças políticas abordadas acima são pragmáticas por natureza. Desse modo, muito dificilmente embarcarão em uma candidatura pouco competitiva, ainda mais quando se sabe que esses partidos e seus principais atores participarão do governo, seja ele qual for.

A pressão desses grupos sobre Bolsonaro aumentará muito nas próximas semanas e, entre o final de março e início de abril, o titular do Planalto poderá ser obrigado a alguma decisão mais radical. O tempo corre.

André Pereira César
Cientista Político

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