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Os impactos de uma decisão

Em 6 de janeiro, durante a primeira reunião ministerial, o presidente Lula (PT) disse que o ministro que "fizer algo errado" será demitido. Passados exatos dois meses, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, do União Brasil, acusado de improbidade, foi mantido no cargo pelo titular do Planalto. Quais os impactos a curto e médio prazos dessa decisão?

Em primeiro lugar, o novo governo, de certo modo, abre a guarda e se coloca como uma espécie de refém dos aliados que integram a chamada “frente ampla”. Muitos aliados originalmente estranhos ao PT, como o PSD, podem se sentir à vontade para agir de maneira livre. Mais ainda, franjas do PP e do Republicanos, que tendem a apoiar Lula, também podem se sentir motivadas a agir com uma certa liberdade. Tanto é assim, que Arthur Lira (PP/AL), presidente da Câmara dos Deputados, em recente evento em São Paulo, afirmou que a base do governo é tão frágil que hoje sequer conseguiria aprovar um projeto com maioria simples.

Outro efeito se dará dentro da própria “frente ampla”. Já complicadas, as poucas conversas entre a esquerda e legendas que antes apoiavam o bolsonarismo tendem a sair de cena. Nesse caso, o risco para a agenda governista cresce e, a rigor, pergunta-se como atuar. O que fazer?

Além disso, setores da opinião pública podem se sentir incomodados com os movimentos do Planalto. Parcela significativa dos eleitores de Lula, que votaram contra Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, pode estar experimentando uma sensação de mais do mesmo.

Sobre o União Brasil, há muito a ser dito. O partido de Juscelino Filho está longe da unidade. Pelo contrário, a legenda segue dividida em relação ao governo Lula. Desde a transição, não há consenso. Hoje, a imprensa confirma que muitos deputados, de uma bancada de 59 - a terceira da Casa -, não consideram Juscelino e os outros dois ministros “seus representantes no governo”, e que, por isso, são independentes e não integram a base governista. O Planalto pode estar em uma encruzilhada.

Ainda sobre o partido, a rigor, a união entre o PSL e o DEM representou um casamento entre uma girafa e um hipopótamo. Não há um mínimo entendimento interno e, mais ainda, corre uma guerra surda ente Luciano Bivar, oriundo do PSL, e ACM Neto e Ronaldo Caiado, do antigo DEM. Crise permanente na legenda.

O quadro ilustra à perfeição os limites da frente ampla. Ao presidente Lula caberá ter habilidade política para conduzir o governo. Os desafios estão postos, e ganham escala a cada dia.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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