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Os caminhos do MDB

A exemplo do que ocorreu em outras eleições presidenciais, o MDB passa agora por um complexo processo interno que definirá os rumos do partido a curto e médio prazos. As decisões a serem tomadas pela legenda afetarão igualmente o ciclo político que se iniciará em 2023.

Em três ocasiões, o partido lançou candidato próprio. No pleito de 1989, o primeiro pós-redemocratização, o presidente da Câmara dos Deputados e condutor da Constituinte, Ulysses Guimarães, tinha o maior tempo de televisão, mas o desempenho foi pífio - ficou com menos de 5% dos votos válidos.

Nas eleições seguintes, em 1994, o ex-governador paulista Orestes Quércia também fracassou, com votação inexpressiva (abaixo de 5%). No caso, ele ficou atrás do folclórico Enéas Carneiro (Prona), no momento em que o país começava a assistir ao embate entre PSDB e PT, embate esse que nortearia a política brasileira pelos vinte anos subsequentes.

Por fim, em 2018 o ex-ministro e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles lançou seu nome, em uma campanha milionária, e recebeu apenas 1,2% dos votos. Aliás, a redução da bancada do partido no Congresso Nacional é, em larga medida, considerada resultado da candidatura Meirelles.

Em 2002, o MDB indicou o vice (Rita Camata) na chapa do tucano José Serra, derrotada por Lula em segundo turno. Em 2010, a petista Dilma Rousseff teve como parceiro Michel Temer, e a chapa vitoriosa foi reconduzida em 2014.

Aqui, é importante ressaltar que o partido teve participação importante nos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula, compartilhando espaço e recursos políticos com outras legendas.

Afinal, para onde vai o MDB em 2022? A princípio, a agremiação tem três opções disponíveis - lançar candidato próprio ou vice, apoiar alguma chapa ou liberar os correligionários nos estados. As três possibilidades estão em discussão e ainda não há um encaminhamento claro.

Sobre a hipótese da candidatura própria, o nome natural é o da senadora Simone Tebet (MS), que conta com a simpatia do atual presidente do partido Baleia Rossi (SP) e do ex-presidente Michel Temer. Reconhecida como uma das principais articuladoras da chamada “terceira via” (agora “campo democrático”), ela tem dois problemas imediatos - não consegue avançar nas pesquisas (média de 1%) e não une a legenda. Ao contrário, há muitas restrições a ela, em especial entre seus colegas de Senado Federal. Mesmo candidata, as chances de ser cristianizada pelo MDB são reais.

Já apoiar uma candidatura, seja Lula (PT) ou o presidente Jair Bolsonaro (PL), é motivo de controvérsia. O petista conta com o apoio de caciques das regiões Norte e Nordeste, mas no Centro-Sul há claros sinais favoráveis ao titular do Planalto. Outra decisão complexa.

Por fim, liberar os correligionários a subirem no palanque que acharem melhor seria o encaminhamento ideal. Nesse caso, as energias do MDB estariam voltadas para a disputa nos Legislativos Estaduais, Câmara dos Deputados e Senado Federal. Um dos objetivos seria reconquistar cadeiras perdidas em 2018 e retomar ao menos parte do protagonismo político.

Sabe-se que o MDB é composto por lideranças regionais espalhadas pelo país, que vivem contextos políticos próprios e específicos. A rigor, trata-se de uma federação que convive em relativa harmonia e tira dividendos dessa realidade. A longevidade da legenda é prova disso.

Concluindo, são remotas as possibilidades de o partido se unir em torno de uma candidatura única, mesmo que própria. Nas eleições de outubro, o MDB continuará a ser o MDB de sempre.

André Pereira César
Cientista Político

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