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Oposição em movimento

A convocação das manifestações de 29 de maio contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi uma jogada de alto risco para a oposição. Caso o número de participantes dos protestos fosse baixo, o titular do Planalto teria munição extra contra seus adversários. O resultado final foi satisfatório para os promotores do evento, com uma expressiva e significativa presença de pessoas contrárias ao governo.

Em primeiro lugar, a oposição retira dos governistas o monopólio das manifestações nas ruas. Nos últimos tempos, eram os bolsonaristas os comandantes dos atos políticos no país. Com isso, passava-se a impressão de que o presidente da República detinha forte apoio popular, apesar das pesquisas de opinião pública indicarem o contrário. Agora, esse quadro mudou.

Além disso, ficou claro que parcela significativa da população que se organizava e se manifestava nas redes sociais se viu disposta a mostrar, nas ruas, seu descontentamento com os rumos do país. Nem mesmo a pandemia pareceu ser um obstáculo suficiente para impedir que milhares de brasileiros saíssem às ruas para criticar Bolsonaro e pedir seu afastamento.

O saldo positivo permite afirmar que, a partir de agora, deverão ser esperadas manifestações similares, com maior número de participantes - o crescimento do movimento deverá seguir em linha com o aumento do número de vacinados pelo país. As imagens dos protestos se tornarão mais frequentes na mídia e nas redes sociais. A pressão deve aumentar em cima dos agentes do poder.

Por falar em mídia, chamou a atenção a cobertura da imprensa nacional no final de semana. Os principais jornais – O Globo e o Estadão, em especial – deram pouco espaço para as manifestações e, no limite, a abordagem foi crítica às aglomerações ocorridas ao redor do Brasil. Um contraste com a imprensa estrangeira, que destacou o ocorrido, reforçando as negativas opiniões externas à atual administração.

Quais os próximos passos? De um lado, a oposição carregará forças nos protestos, de modo a deixar mais e mais exposta a insatisfação corrente na sociedade.

Do outro, os partidos serão forçados a adotar posições mais explícitas. O Centrão, em especial, em algum momento se definirá sobre as reais intenções com relação ao governo Bolsonaro. Não causará surpresa um racha no grupo - uma parcela seguindo ao lado do titular do Planalto, enquanto outro grupo, talvez com Gilberto Kassab (PSD) à frente, poderá passar para as fileiras lulistas.

Por fim, a chamada “terceira via” enfrentará o momento da decisão final - define rapidamente um projeto e nome únicos ou perde definitivamente as perspectivas de poder para 2022.

O último dia 29 representa um ponto importante na cena política nacional. O jogo mudou (novamente) de configuração. O inverno está chegando e Bolsonaro, a seu modo, deverá esboçar uma reação nos próximos dias.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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