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O real poder político do Centrão

Já era do conhecimento geral que o Centrão, hoje peça fundamental do governo de Jair Bolsonaro (PL), tem peso político expressivo na cena nacional. Levantamento realizado pelo jornal O Globo mostra os números desse predomínio, que impacta fortemente o quadro geral.

De acordo com a publicação, os três principais partidos do bloco - PP, PL e Republicanos - ocupam 32 cargos em postos-chave do governo federal. Indo além, esses postos garantem o controle da destinação de R$ 150 bilhões do Orçamento da União. Montante expressivo, ainda mais quando se leva em conta estarmos em ano eleitoral.

A título de comparação, o valor nas mãos do Centrão é superior ao orçamento de alguns ministérios, como o da Defesa e da Educação. A rigor, fica atrás apenas do ministério da Saúde, que vive o combate permanente à pandemia.

Some-se a isso a recente decisão do presidente da República que, por meio de decreto, tirou do ministério da Economia e passou para a Casa Civil a palavra final sobre gestão orçamentária. O ministro Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, tratará do destino de R$ 37 bilhões em emendas parlamentares.

A situação geral leva à inevitável conclusão de que, ao longo de sua existência, o Centrão poucas vezes concentrou tanto poder em mãos. Assim, o governo Bolsonaro seria o único e exclusivo porto seguro para o bloco?

A resposta é não. Em primeiro lugar, o titular do Planalto tem um comportamento mercurial, que gera desconfiança permanente em seus aliados. Desse modo, o risco do surgimento de crises a qualquer momento é real, deixando o Centrão sempre de sobreaviso. Cautela também faz parte do léxico do bloco.

Além disso, há o evidente risco eleitoral. Em baixa nas pesquisas, Bolsonaro tem em Lula (PT) um difícil adversário a superar, e todos sabem disso. Os partidos do Centrão, que fizeram parte de governos petistas, não se constrangeriam em mudar de barco caso o quadro não se altere até meados do ano. O custo político desse movimento seria muito baixo.

Enfim, o Centrão joga como poucos o xadrez político. Com fartos recursos em mãos, o bloco tem grandes chances de eleger bancadas sólidas no pleito de outubro próximo. Nada mudará nessa seara a partir de 2023.

André Pereira César
Cientista Politico

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