O rato que ruge  - Política - Hold

O rato que ruge 

Clássico do cinema do final dos anos cinquenta, “O rato que ruge” (1959) é uma comédia sobre um pequeno país em grave crise financeira que declara guerra aos Estados Unidos, mas as coisas não saem conforme o planejado. O destaque da obra é o genial Peter Sellers, que interpreta três papéis simultaneamente, inclusive o de uma duquesa.

O filme salta à memória depois dos eventos de quarta-feira, 26 de outubro, em plena reta final do segundo turno da disputa sucessória. As denúncias de irregularidades na distribuição das peças de propaganda eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL) para rádios da região Nordeste do país surtiram efeito contrário. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), inicialmente atacado pelos governistas por supostamente “jogar contra” e favorecer o PT, reagiu e deixou o Planalto no corner.

O que se viu, ao final, foi um mandatário perdido ao conceder uma entrevista coletiva na qual ficou exposto o desconforto do atual grupo no poder. Sem provas e sem condições de confrontar os fatos - afinal, não compete ao TSE distribuir e fiscalizar o material de campanha, mas sim aos partidos - Bolsonaro criou uma armadilha para si próprio.

Para piorar, algumas das rádios que supostamente teriam sido “boicotadas” pela Corte eleitoral já se pronunciaram, afirmando não haver recebido o material de propaganda do próprio comando bolsonarista.

Comenta-se em Brasília que o presidente e um pequeno grupo de aliados mais próximos, entre eles alguns deputados e senadores, teriam sugerido o adiamento das eleições. A proposta foi rechaçada pela maioria e o recuo foi inevitável. Um clássico e inapelável gol contra.

A rigor, foi o segundo movimento consecutivo no sentido de tumultuar o segundo turno. No último domingo, o ex-deputado Roberto Jefferson recebeu a tiros Policiais Federais que cumpriam mandado de prisão contra ele. Aqui, duas perguntas: terão sido gastas suas supostas “balas de prata” no momento da definição do processo eleitoral? Haveria outra sendo preparada?

Já alertamos nesse espaço que, ao longo do segundo turno, a tensão aumentaria e a democracia seria testada ao limite. Agora, fica mais claro que, em caso de vitória de Lula (PT), um terceiro turno, ao estilo Aécio Neves (PSDB/MG) em 2014, será praticamente inevitável. Na prática, o processo sucessório não será resolvido no próximo domingo e o país enfrentará uma longa transição.

Quarta-feira, 26 de outubro, será lembrada como o dia em que o rato rugiu numa tragédia, comédia e farsa que caminharam de mãos dadas.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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