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O movimento dos extremistas

Uma consequência imediata do silêncio do presidente Jair Bolsonaro (PL), que ainda não se manifestou sobre o resultado das urnas e muito menos reconheceu a vitória de Lula (PT), é a paralisação das rodovias brasileiras. Em importantes vias, como a Anhanguera, a Bandeirantes, a Régis Bittencourt e a Dutra, caminhoneiros seguem bloqueando o tráfego. Um misto de março de 2018 com a tentativa de invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

Enquanto o titular do Planalto segue calado, a Justiça tenta agir. Com o apoio de seus pares, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu que as polícias militares podem atuar na desobstrução das rodovias bloqueadas, inclusive as federais. Também governadores, entre eles os aliados de Bolsonaro Romeu Zema (Novo/MG) e Rodrigo Garcia (PSDB/SP), determinaram a liberação das vias. Questão de tempo para que a situação volte à normalidade.

O que se vê, na verdade, é a ação de um grupo restrito que não aceitou o resultado do segundo turno. Pior para o presidente da República, que se isola mais e mais no Alvorada - Lula inclusive já recebeu congratulações de dezenas de chefes de Estado e de governo (mais de 90 países), como Joe Biden, Emmanuel Macron, Vladimir Putin e Volodimir Zelensky, além de ter recebido pessoalmente o presidente argentino Alberto Fernández.

Mesmo aliados de primeira hora de Bolsonaro, como o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/ AL), recalcularam a rota e já sinalizam ao petista. O novo ciclo político já começou e a transição de poder já é uma realidade. O ainda presidente hoje não passa de uma pálida sombra de um passado não tão distante.

Agora, a bola está nos pés do novo grupo no poder. A questão imediata que se coloca é sobre a composição do primeiro escalão, com destaque especial para a equipe econômica. O ministério da Economia terá, mais uma vez, papel crucial nos destinos do país. O economista Pérsio Arida, um dos formuladores do Plano Real, e o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro Henrique Meirelles seguem fortes nas bolsas de apostas.

O movimento do recém-eleito Lula ao centro do espectro político, iniciado com a inclusão do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) em sua chapa eleitoral, deu resultados claros. Hoje, o petismo supera antigos dogmas e rancores e se coloca como o mais importante player da política nacional - com todos os desafios que isso representa.

Do outro lado, Bolsonaro sai enfraquecido e com poucas perspectivas de retomar o protagonismo dos últimos anos. Na verdade, o bolsonarismo seguirá existindo, mas não necessariamente com o ainda mandatário à frente. Outras lideranças de direita, como o já citado Zema e o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se apresentam como possíveis novos nomes. A política não comporta vácuo, como se sabe.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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