O mercado de Mercadante - Política - Hold

O mercado de Mercadante

Com apenas uma semana no comando do BNDES, Aloizio Mercadante já contribui para aumentar os ruídos no âmbito da economia. O chamado novo arcabouço fiscal está no centro do imbróglio.

Como se sabe, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentará uma nova âncora fiscal até meados do mês de abril. Tarefa da pasta, como se sabe. No entanto, Mercadante entrou no jogo e anunciou um seminário a ser realizado pelo banco para discutir a questão. Saia justa que aumenta a pressão sobre o titular da Fazenda.

As explicações. O presidente do Banco afirmou que o seminário não tratará apenas do arcabouço fiscal, mas também de outros temas. Indo além, ele afirmou que o evento ocorrerá após a apresentação do projeto da Fazenda sobre o tema, portanto não terá influência real sobre o debate dentro do governo. Por fim, teria sido o próprio Haddad a ter sugerido a realização do seminário, visando qualificar o debate. Muitas explicações para algo que, em tese, seria algo banal.

Sendo verídicas as informações acima, fica uma pergunta básica - qual será a reação de todos (governo, Congresso Nacional, mercado) caso a proposta de Haddad para o novo arcabouço fiscal seja alvo de críticas durante o seminário? Será um mero constrangimento ou afetará de fato a condução dos trabalhos?

É do conhecimento geral que Mercadante está longe de ser unanimidade no PT. Além disso, sabe-se que ele desejava, desde sempre, comandar a pasta da Fazenda. Esperava a nomeação dessa vez no novo governo. Sua eventual indicação, no entanto, teria gerado muito barulho. Por não ser unanimidade e por ter um perfil mais próximo ao da ex-presidente Dilma Rousseff, o que incomoda os mercados - afasta novos aliados de Lula.

Entra aqui também o problema de comunicação do governo. Fala-se muito, sem entendimento prévio, o que passa à sociedade uma sensação de descontrole. O pior dos mundos, no limite. Aliás, cobrança diária por melhoras nesse quesito, da imprensa especializada e do mercado financeiro e econômico.

Por fim, não compete ao BNDES discutir a nova âncora fiscal. Essa é uma tarefa única e exclusiva da Fazenda. O episódio mostra que ao novo governo falta entendimento sobre as reais funções e um controle central. O presidente Lula precisa demonstrar mais força.

No frigir dos ovos, para quem conhece Mercadante e a sua trajetória política desde sempre, não há nenhuma surpresa no “fogo amigo”. Aliás, se diferente fosse, algo de errado não estaria certo. No fim das contas, trata-se somente de Mercadante sendo o velho e bom Mercadante.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

Comments are closed.