O mais longo dos dias - Política - Hold

O mais longo dos dias

Passada a eleição para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, o saldo é claro. Entre vencedores e derrotados, o momento é de se fazer o balanço e, a partir disso, montar as estratégias para o jogo que se inicia. O ano político começou de fato.

De certo modo, a disputa no Senado lembrou uma final de Copa do Mundo. As regras do processo, com voto em cédulas de papel, alimentaram as expectativas de todos. Ao final, a vitória de Rodrigo Pacheco (PSD/MG) sobre Rogério Marinho (PL/RN) por 49 a 32, tem muitos significados. Vamos a eles.

Quem ganha? Além do próprio Pacheco, reeleito, o Planalto venceu a disputa. Não por acaso, o presidente Lula (PT) ligou para o senador tão logo os votos foram contabilizados. Um alívio para o governo, que tem maiores chances de ver avançar a agenda na Casa. Além disso, a possibilidade de ruídos com eventuais processos contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sai de cena.

Ganha também a institucionalidade, com a vitória de um candidato que defende as regras do jogo. Goste-se ou não de Pacheco, ele é um apaziguador que não sai das linhas do campo. Em tempos de conflito, esse dado é fundamental.

Por fim, Rogério Marinho sai maior da disputa. Ele virou o rosto da oposição no Senado e, a médio prazo, deverá se afastar do bolsonarismo mais radical. Com origem no PSDB, o ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro (PL) e ex-deputado federal por dois mandatos, é um político experiente que tende a chamar para si o debate mais qualificado entre seus pares. A conferir.

O grande derrotado foi o projeto bolsonarista de manutenção do poder na Câmara Alta. Com o senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ) à frente e a atuação de figuras como Damares Alves (Republicanos/DF) e Magno Malta (PL/ES), o projeto era claro - vencer para pressionar o Planalto. Nada feito.

O ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos/RS), o ex-ministro da Justiça, Sérgio Mouro (União/PR) e o ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Astronauta Marcos Pontes (PL/SP), também foram de alguma forma derrotados, e se juntam aos demais para o exercício de uma oposição mais visceral ao governo Lula.

Na Câmara, o reconduzido Arthur Lira (PP/AL) bateu um recorde. Com impressionantes 464 votos, ele superou a marca do petista João Paulo Cunha, que em 2003 recebeu 434 votos. Lira sai com musculatura extra do processo e terá capital político de sobra para negociar com o governo. O preço aumentou.

O ano político enfim começa, assim como a gestão Lula. O presidente da República agora poderá concluir as indicações de segundo e terceiro escalões (com a participação dessa ampla frente de partidos) e, a partir disso, fazer avançar a complexa pauta. O mais longo dos dias já é história, página virada. A verdadeira batalha tem início agora.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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