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O jogo político de Moro

Símbolo maior da Operação Lava Jato, alçado por muitos à condição de verdadeiro herói brasileiro, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (União Brasil), senador eleito pelo estado do Paraná, retornou aos holofotes. Ao declarar publicamente apoio à candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL) e depois de acompanhar o titular do Planalto no primeiro debate do segundo turno da disputa sucessória, ele dá indicações claras de quais deverão ser suas movimentações a curto e médio prazos.

De imediato, ainda dentro da campanha de segundo turno, ele deverá participar da propaganda eleitoral de Bolsonaro. Também deverá repetir o gesto e acompanhar o presidente no último debate, que ocorrerá poucos dias antes do pleito.

No âmbito puramente eleitoral, Moro ainda é uma incógnita. O que se sabe até aqui, no entanto, é que as suas ambições políticas deverão fazer com que não se contente apenas com o mandato de senador. Disputar o governo do Paraná em 2026 - caso perca, retorna ao Senado Federal para cumprir a metade restante de seu mandato - pode ser uma das opções mais singelas. A outra, mais ousada e muito dependente do seu desempenho político ao longo dos próximos quatro anos, e que não deve ser descartada, seria se lançar como candidato à presidência da República. Além disso, ele poderá lançar as candidaturas de dois novos deputados aliados, sua esposa Rosângela Moro (União Brasil/SP) e o também lavajatista Deltan Dallagnol (Podemos/PR) às prefeituras de São Paulo e Curitiba daqui a dois anos. Seria um teste para sua capacidade de articulação política.

Como senador, o ex-ministro já deixou claro que transitará à direita do espectro político. Sua atuação na Câmara Alta estará atrelada à de outros parlamentares de perfil similar, como Flávio Bolsonaro (PL/RJ), Damares Alves (Republicanos/DF), Magno Malta (PL/ES) e Hamilton Mourão (Republicanos/RS) - todos alinhados com a agenda bolsonarista, por sinal. Resta saber se estão dispostos a aceitar Moro como parceiro. No mundo político, há muita desconfiança quanto aos reais objetivos do ex-ministro. A saída nada amigável do cargo de ministro da Justiça, quando atirou para todos os lados e a “traição” ao seu padrinho político Álvaro Dias (Podemos/PR), são alguns episódios que não devem ser facilmente esquecidos.

Ainda na questão parlamentar, Moro certamente trabalhará para ocupar espaço em comissões de peso, como a de Constituição e Justiça (CCJ). Aqui, será interessante observar como se dará a relação do novo senador com políticos que foram alvo da Lava Jato, Renan Calheiros (MDB/AL) entre eles. Alguma fricção é esperada. A disputa pela relatoria de importantes matérias também será alvo do novo senador, bem como a busca de protagonismo quando da definição de novas autoridades pelo Senado, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) entre elas.

Nesse aspecto, necessário dizer que Moro, que surpreendeu a muitos ao derrotar Álvaro Dias, chega ao Congresso Nacional com aparente força política, legitimado pela expressiva votação que obteve. Essa situação não garante, porém, sucesso imediato do novo senador, que enfrenta resistência inclusive em seu próprio partido.

Ao se reaproximar de Bolsonaro na tentativa de se cacifar ou de ser aceito “pelo grupo”, o ex-ministro assume um risco político - o atual presidente, na prática, sepultou as operações de investigação com o afastamento de delegados da Polícia Federal e imposição de sigilos de 100 anos. Como o eleitor de Moro, em tese defensor das ações de combate à corrupção, reagirá ao novo perfil do agora senador?

No caso de vitória de Lula (PT), seu desafeto, Moro inevitavelmente irá para a oposição mais radical. Nesse cenário, não haveria espaço para alternativas.

Por fim, Sérgio Moro aparentemente busca uma revisão de seus atos dos últimos anos. Bolsonaro, como se sabe, tem o poder de se afastar de aliados que ganhem maior projeção política. O próprio ex-ministro passou por isso quando de sua demissão do governo, em abril de 2020. A história pode se repetir, como tragédia e como farsa.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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