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O jogo político de Arthur Lira

Das principais lideranças políticas do país e um dos chamados “fiadores da governabilidade”, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), realiza um jogo que requer atenta leitura de aliados e adversários. O parlamentar corre solto no tabuleiro político e envia recados a todos.

Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico, Lira foi mais Lira do que nunca. Sem meias palavras, ele afirmou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, deve se submeter ao ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP/PI), hoje o dono da “chave do cofre” do governo de Jair Bolsonaro (PL). O ex-Posto Ipiranga está com o prestígio na lona, como se vê.

Indo além, Lira elencou as propostas prioritárias para o ano eleitoral de 2022. Verdadeiras “pautas bomba”. Entre elas está o projeto que criminaliza as Fake News, que causa arrepios no presidente da República e em seus colaboradores mais próximos. A pauta de costumes, tão cara aos bolsonaristas radicais, ficou de fora. Ao que tudo indica, o comandante da Câmara tenta criar uma imagem de neutralidade em relação ao Planalto, de olho na possibilidade concreta de derrota de Bolsonaro no pleito de outubro. Pragmatismo puro.

Em tese, Arthur Lira tem reais condições de reeleger-se presidente da Casa em 2023. No entanto, a eventual chegada de Lula (PT) ao Planalto, como apontam as pesquisas de momento, obriga o deputado a se movimentar. Isso explica, em larga medida, seu comportamento agora - uma espécie de “política de boa vizinhança” com as legendas de centro e centro-direita e também com a esquerda. Lira não quer correr riscos no início do próximo ano.

Nos bastidores comenta-se, nos últimos dias, que o presidente da Câmara deseja indicar o próximo ministro da Infraestrutura - o atual titular da pasta, Tarcísio de Freitas, deixará o posto em breve para disputar o governo de São Paulo. No entanto, Bolsonaro já havia assumido compromisso com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e prometeu-lhe a vaga. O potencial embate será um teste de fogo para Lira - terá ele força para fazer valer sua vontade? Um conflito pode estar se desenhando no coração da atual base aliada.

No entanto, o senão para Lira nesse projeto de poder é o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD/MG). Ele tem atuado como uma espécie de freio no ávido apetite de Arthur Lira. Alguns importantes projetos aprovados na Câmara sob a liderança de Lira continuam parados no Senado. Pacheco, como bom mineiro que é, sabe fazer, melhor do que ninguém, o jogo da paciência, tudo para evitar ser engolido por Lira e seu grupo.

Enfim, o presidente da Câmara opera com desenvoltura e testa os limites de seu poder político. Os desafios postos a ele não são triviais. Lira trabalha para não desagradar seus pares e, simultaneamente, olha para o atual e para o futuro titular do Planalto - isso sem descuidar da própria reeleição para o Parlamento, em outubro.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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