O futuro imediato do Centrão - Política - Hold

O futuro imediato do Centrão

Entre outras consequências, a definição do novo partido do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) selará o destino imediato do Centrão. Três legendas hoje disputam o passe presidencial, PP, PL e Republicanos, e já há claros sinais de fissura no megabloco em função do embate. No limite, o titular do Planalto ganhará uma agremiação, mas perderá apoio nas outras.

O atual impasse, que se arrasta há meses, tem como pano de fundo dois pontos. O primeiro reside no fato de Bolsonaro desejar o comando total do partido ao qual ingressará, definindo inclusive os nomes dos candidatos ao Senado Federal em 2022. Lideranças nacionais e regionais são contrárias à ideia do presidente com plenos poderes na nova casa. Dado o histórico partidário do atual mandatário, não deixam de ter certa razão.

O segundo ponto é mais complexo. As três agremiações envolvidas na disputa não são um monolito - ao contrário, diretórios regionais estão divididos quanto a quem apoiar na sucessão presidencial do próximo ano. Essa divisão se dá muito por conta da eleição para a Câmara dos Deputados – a mais importante para os partidos, diga-se, por conta da cláusula de barreira, fundo partidário e eleitoral. Traduzindo, Bolsonaro está longe de ser unanimidade nos partidos com os quais negocia.

No Nordeste, o PP tende hoje a apoiar o ex-presidente Lula (PT). Essa é a posição de lideranças na Bahia, em Pernambuco, no Maranhão e no Ceará. Além disso, em São Paulo e em Goiás o partido é próximo do governador João Dória (PSDB/SP), que tem chances de ser indicado para a disputa sucessória. Nem mesmo o peso político de Arthur Lira e Ciro Nogueira parece suficiente para reverter esse quadro.

No PL, a situação é similar. Amazonas, Piauí, Alagoas e São Paulo registram movimento contrário ao ingresso do presidente. Caso Bolsonaro se filie, poderá ocorrer uma debandada de parlamentares liberais.

Por fim, o Republicanos apresenta as mesmas divisões internas, com um adendo: por ser umbilicalmente ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, a entrada do presidente na legenda poderá gerar uma indisposição de Bolsonaro com outras denominações evangélicas, cruciais para sua manutenção no poder.

Como bem lembrou o jornal O Estado de São Paulo em editorial no último domingo, 7 de novembro, o Centrão, desde seu surgimento, ainda durante a Constituinte, foi fiador de importantes reformas e políticas públicas, da criação do SUS ao estabelecimento do teto de gastos, passando pelo Bolsa Família, a Lei de Responsabilidade Fiscal e o Código Florestal. Ou seja, quando do interesse do bloco, ele apoiou iniciativas do governo de plantão, fosse ele FHC, Lula ou Temer.

A conclusão da novela do novo partido de Bolsonaro pode gerar uma situação diferente. Mal conduzido, o processo tende a gerar profunda discórdia interna e, com isso, o presidente perder apoio nas legendas “descartadas”. Uma equação ruim para o titular do Planalto, sem dúvida.

Concluindo, a disputa por Bolsonaro é explicada pelo ativo eleitoral que ele ainda representa. Caso o governo consiga colocar de pé o Auxílio Brasil, o Bolsa Família “vitaminado”, ele e seus aliados poderão transformar o novo programa em votos. No entanto, tudo é incerto. A decisão da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, de deferir a liminar na ação do PSOL para barrar a liberação de verbas via emenda de relator, instrumento crucial para a aprovação da polêmica PEC dos Precatórios, base financeira do Auxílio, pode levar os parlamentares a rever suas posições em plenário. Afinal, interessará aos partidos seguir apoiando um candidato cujo principal programa eleitoreiro corre o risco de não sair do papel?

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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