O futuro das relações Lula - Lira - Política - Hold

O futuro das relações Lula – Lira

É do conhecimento geral que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), é personagem central na atual cena política. O peso de seu comando, não somente sobre os deputados, mas também em outras frentes, torna-o fundamental para as ações do governo Lula (PT).

O que se vê hoje é um jogo de morde e assopra entre o Legislativo e o Executivo. Longe de ser aliado do Planalto, Lira se posiciona de modo a negociar proposta a proposta com o presidente da República. No limite, o governo tem poucos instrumentos em mãos para fazer avançar a agenda sem depender do comandante da Casa e de seus aliados.

Os exemplos são fartos. Na questão do marco do saneamento, Lira simplesmente pautou a proposta que revogava as mudanças efetuadas pelo Planalto no setor - aliás, sabia-se de antemão que o governo seria derrotado caso a matéria fosse a voto (votaram com o governo apenas 136 deputados). Jogo jogado, com o aval do presidente da Câmara.

Igualmente a instalação de três CPIs teve a participação mais que direta de Lira. Aqui, é importante observar o ocorrido sob dois aspectos. Em primeiro lugar, as investigações que se iniciam contaminam o ambiente Legislativo, gerando dificuldades adicionais para a votação da pauta governista. Além disso, a CPI do MST em especial, e por se tratar de uma Comissão de Inquérito eminentemente política e que será tocada pela oposição, pode afetar negativamente um governo que já enfrenta problemas de monta.

Nem tudo são espinhos, porém. Na discussão em torno do projeto do novo arcabouço fiscal, o alagoano tem se empenhado para convencer seus pares a aprovar a proposta com celeridade. Chama atenção inclusive a dobradinha que ele fez com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante as negociações. O fato de o tema ser bem visto pelo mercado conta para a ação de Lira, mas fica claro que há algum espaço para conversas entre as partes.

Do lado do Planalto, o que se vê é uma base fluida e sem força para, sozinha, aprovar a agenda governista. Daí a importância de Lira para Lula, que está ciente dessa situação. Hoje, o presidente da República não pode ficar sem o deputado.

E a médio prazo, como ficará essa relação? Uma hipótese é a de que, passado o “núcleo duro” da agenda (arcabouço fiscal, medidas provisórias, talvez alguma parte da reforma tributária), Lula comece a se afastar de Lira. Esse movimento seria lento, seguro e gradual, mas em algum momento eles estarão em lados abertamente opostos. A ideia é o desmame de Lula na tentativa de se conseguir lançar um nome alinhado ao governo para disputa da presidência da Câmara em fevereiro de 2025. A conferir.

Por fim, ao governo é necessário, urgentemente, arrumar a casa. As diversas rusgas internas estão atrapalhando o funcionamento da máquina. Da Câmara, Arthur Lira acompanha satisfeito o atual quadro. A máxima do quanto pior, melhor, nunca foi tão atual.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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