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O Brasil na cena global

Para o bem ou para o mal, a depender da ótica, o Brasil vai retomando o protagonismo na comunidade internacional. O abandono dos debates a esmo, marca do governo de Jair Bolsonaro (PL), está sendo substituído por uma agenda mais ativa da gestão Lula (PT).

ONU - em linhas gerais, o titular do Planalto teve um bom desempenho na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nos últimos dias. Com um discurso sólido e sem improvisos, citando números e abordando temas como a fome e a crise climática, passou o recado aos presentes ao evento.

A questão da reforma do Conselho de Segurança, evidentemente, entrou em pauta. Ao lado de outras lideranças regionais, o Brasil trabalha para entrar no grupo. Difícil, porém, ser aceito. Os integrantes originais não querem dividir poder.

Fica cada vez mais claro que a ONU precisa passar por mudanças. Criada no imediato pós-guerra, a instituição torna-se cada vez mais anacrônica, perdendo peso e voz a olhos vistos.

Por fim, o bom desempenho de Lula contrastou com o discurso pífio de Joe Biden. Além disso, a ausência das demais lideranças do Conselho de Segurança (Rússia, China, Inglaterra e França) sem dúvida esvaziou a reunião.

G20 - o Brasil assumirá no início de dezembro a presidência temporária do G20, as vinte maiores economias do globo. No comando do grupo, o país pretende implementar discussões como o endividamento dos países e os juros altos na maioria do planeta. Também as mudanças climáticas estarão em pauta.

A presidência do G20, sem dúvida, será um palco importante para ações do governo brasileiro. Em novembro de 2024, será realizada a Cúpula de chefes de Estado e de governo, no Rio de Janeiro. Pode ser uma excelente oportunidade para o Brasil apresentar uma agenda consistente para os demais países.

G77 – é a coalizão de nações em desenvolvimento que visa promover os interesses econômicos coletivos de seus membros e criar uma maior capacidade de negociação conjunta na ONU. Fundado em 1964, hoje conta com 134 membros mais a China. O grupo se reuniu dias atrás em Havana, capital cubana.

No evento, o titular do Planalto teve uma participação bem ao gosto do público presente. Condenou o embargo a Cuba e falou em revolução digital e transição energética. No caso do grupo, o objetivo do Brasil é claro - colocar-se como liderança e referência para os demais países e usar essa condição para reforçar seu pleito de ingressar no Conselho de Segurança da ONU.

BRICS - o bloco originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e, posteriormente, África do Sul, foi vitaminado com o ingresso de seis novos membros - Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Um mosaico de países com pouco em comum e muitas diferenças.

De todo modo, a expansão pode abrir caminho para que outros países procurem admissão ao bloco. A polarização geopolítica ligada à guerra na Ucrânia e ao declínio das relações da China com os Estados Unidos está estimulando os esforços de Pequim e Moscou para transformar o Brics em um contrapeso viável ao Ocidente. O Brasil pode se aproveitar desse quadro.

Ucrânia - a invasão da Ucrânia pela Rússia representou, a princípio, uma espécie de “casca de banana” para o governo brasileiro. As declarações iniciais de Lula, relativizando o ocorrido e evitando criticar mais duramente o russo Vladimir Putin, geraram certo desconforto na comunidade internacional.

Agora, as coisas podem efetivamente mudar de rumo. Ao se reunir com o ucraniano Volodymyr Zelensky em Nova Iorque, ele afirmou buscar caminhos para a paz e a manutenção de um diálogo permanente. Na prática, nada efetivo, mas ao menos o discurso fica mais ajustado.

Mercosul/União Europeia - as negociações em torno do acordo entre o Mercosul e a União Europeia seguem enfrentando os obstáculos de sempre. O protecionismo de alguns países, como a França, emperra as conversas. Há muito a caminhar ainda.

Na avaliação de observadores, o Mercosul correrá sério risco caso o acordo não seja aprovado até dezembro próximo. O motivo é um só - a possível vitória do libertário Javier Milei nas eleições argentinas. Em primeiro lugar nas pesquisas, ele já afirmou que abandonará o bloco sul-americano caso conquiste a Casa Rosada. Ameaça real.

COP30 - aqui, vitória do governo na cena global. A realização da COP30 em Belém (PA), em 2025, é carregada de simbolismo. O evento se dará em plena Amazônia, um dos principais focos de preocupação das lideranças mundiais. Além disso, recoloca definitivamente o Brasil no centro do debate sobre a crise climática. Por fim, faz um claro contraponto ao governo de Jair Bolsonaro (PL) que, como se sabe, abandonou esse tema.

Por fim, o país ganhará grande visibilidade internacional e, caso a organização trabalhe bem, poderá mostrar ao mundo uma imagem mais qualificada do Brasil. Em suma, trata-se de oportunidade única.

André Pereira César

Cientista Político

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