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Lula na América

A primeira visita do presidente Lula (PT) aos Estados Unidos em seu novo mandato é um marco importante da agenda governista. Entre várias reuniões previstas para ocorrer ao longo dessa sexta-feira, o encontro com o democrata Joe Biden será o ponto alto. A conversa entre os dois terá uma vertente pragmática, mas também contará com um componente de forte simbolismo político. Há pontos de consenso, mas também áreas em que os dois presidentes discordam. O que esperar das negociações de hoje?

Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que ambos, Lula e Biden, sofreram em tempos recentes com ataques de grupos antidemocráticos muito bem organizados. A invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e o ataque à Praça dos Três Poderes, no último 8 de janeiro (o “Capitólio tupiniquim”) une os dois. Daí a importância de que os governos brasileiro e americano se manifestem de maneira forte em defesa da democracia, como um valor universal e inegociável. É o que se espera que ocorra.

Para além da defesa da democracia, a economia e a questão ambiental, ambas por sinal interconectadas, darão o tom das conversas. A presença dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Meio Ambiente, Marina Silva, indica a importância e a delicadeza da questão. Um dos objetivos do presidente brasileiro é trazer os Estados Unidos para o Fundo Amazônia, recentemente retomado por Alemanha e Noruega após anos de inatividade durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Seria uma sinalização efetiva da retomada da confiança da comunidade internacional no Brasil. Dados divulgados nesta sexta-feira (10), pelo Instituto de Pesquisas Espaciais – INPE, dão conta que o desmatamento em janeiro de 2023 na Amazônia Legal teve queda de significativos 61%. Imagem positiva para o início de uma conversa sobre o meio ambiente.

Também acordos de colaboração bilateral estarão no radar, mas, nesse caso, o que deverá ocorrer serão avanços nas negociações, com a conclusão dos entendimentos ficando mais para a frente.

No campo puramente político, com o governo Lula, Biden deseja retomar a influência norte-americana no continente. O país perdeu força nos últimos tempos, como ficou evidenciado na Cúpula das Américas de 2022, realizada em Los Angeles. Esvaziado, o evento deixou clara a nova realidade política, com peso norte-americano em declínio.

Agora, há pontos de fricção entre os dois governos. A posição brasileira na guerra da Ucrânia, por exemplo, pode gerar algum ruído, bem como a relação do país com a China, nosso principal parceiro comercial. Também o não posicionamento de Lula com relação a ditaduras, como a Nicarágua de Daniel Ortega, incomoda os Estados Unidos.

De todo modo, o saldo da visita será positivo. Depois de anos congeladas, as conversas começam a ser retomadas.

Um último detalhe, de não menor importância: a comitiva brasileira está hospedada na luxuosa Blair House, propriedade do governo norte-americano. São poucos os líderes mundiais a se hospedar no local. A deferência a Lula é sinal do prestígio do petista no exterior, mas também serve de alerta. O presidente brasileiro precisa se aproveitar desse momento para trazer ganhos para o país. Esse capital político se esgota rapidamente e não há tempo a perder.

André Pereira César
Cientista Político

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