O comportamento do novo presidente tem chamado a atenção desde sua posse, ou mesmo antes, durante a transição. Uma mescla de ataques mais fortes aos adversários e um movimento de busca pelo apaziguamento da classe política e da sociedade brasileira como um todo. Afinal, qual Lula está em campo?
De um lado, o petista seguiu as primeiras semanas de governo com um tom forte contra determinados setores, como os ultraradicais de direita que atacaram a Praça dos Três Poderes, em Brasília, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por conta da política monetária em curso. Nesses momentos, Lula parece em campanha permanente.
A tragédia no litoral norte paulista, porém, pode ter sido um ponto de inflexão em todo esse processo. Diante dos fatos, o titular do Planalto foi obrigado a abraçar o pragmatismo e se associar ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e ao prefeito tucano e bolsonarista de São Sebastião, Felipe Augusto, a cidade mais afetada pelas chuvas durante o feriado de carnaval. Meras coisas da política, alguns podem afirmar.
Além de deixar a pausa na Bahia durante os festejos de Momo e chamar diversos ministros para atender às demandas em São Paulo, Lula assumiu compromissos públicos com antigos adversários políticos - Tarcísio talvez seja, ou fosse até pouco tempo, a síntese do governo anterior, com sua política negacionista. Vivemos uma nova época?
Mais ainda, a proposta de Lula ao norte-americano Joe Biden, defendendo a criação de um foro especial para discutir o final da guerra na Ucrânia, foi bem acolhida pela ONU. Uma ideia aparentemente utópica ganhou espaço no cenário internacional. Sinal dos tempos, e bem aproveitado pelo governo brasileiro.
A política é feita de simbolismos, todos sabemos, e aqui há um contraponto. Enquanto Lula, diversos ministros, o governador paulista e o prefeito da cidade destruída pelas chuvas se mobilizavam para ao menos minimizar os efeitos da catástrofe, a primeira-dama dançava no carnaval em Salvador, na Bahia. As imagens circulam nas redes sociais e revelam, no mínimo, falta de sensibilidade política. No limite, a ação do presidente foi posta em xeque. Um deleite para a oposição.
Afinal, Lula desceu do palanque e começou a administrar ou segue em campanha permanente? No ano que tem início agora, após o carnaval, essa resposta será fundamental para os destinos do governo da chamada frente ampla.
André Pereira César
Cientista Político
Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico
