Implicações políticas dos casos Bolsonaro & Dallagnol - Política - Hold

Implicações políticas dos casos Bolsonaro & Dallagnol

A terra tremeu em Brasília na terça-feira, 16 de maio, com o novo depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Polícia Federal e a cassação do mandato do deputado Deltan Dallagnol (Podemos/PR). A poeira ainda não baixou, mas algumas observações imediatas são necessárias.

O que se viu no depoimento de Bolsonaro foi mais do mesmo. Em um longo e duro questionamento, ele repetiu o que já vem falando. Não sabia das falsificações nos cartões de vacinação, não delegou coisa alguma a seus subordinados, não teve participação nos atos de 8 de janeiro, entre outras coisas. Na verdade, jogou a responsabilidade para os antigos assessores, em especial o tenente-coronel Mauro Cid. Há muitas pontas soltas nesse roteiro, no entanto, que aguardam esclarecimentos.

Por mais paradoxal que possa parecer, a atual situação poderá reforçar, ao menos por ora, a imagem do “Mito”, vítima de perseguição de um sistema corrupto. O ex-presidente já está em campo com essa abordagem, também replicada por aliados. Foi o que se viu na entrevista concedida à Globonews pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Praticando um contorcionismo verbal e intelectual, ele afirmou manter total apoio ao aliado e, ao final, se provará a inocência. A conferir.

Os antigos aliados do governo Bolsonaro, entre eles governadores, senadores e deputados, prefeitos e outros, porém, poderão ser obrigados a refazer seus cálculos políticos, a depender do que as investigações mostrarem. No limite, o ex-presidente pode ficar restrito a seus apoiadores mais radicais, reduzindo assim sua capacidade de mobilização.

O caso de Dallagnol é de outra natureza. O ex-procurador, um dos símbolos e um dos “heróis” da Lava Jato, está passando à condição de vilão. A Corte Eleitoral tomou sua decisão (unânime) baseando-se na Lei da Ficha Limpa, pois teriam ocorrido fraudes no processo de saída do então procurador do Ministério Público Federal. Dallagnol poderá recorrer, mas a decisão tem efeito imediato e dificilmente será revertida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Boa parte do mundo político que foi alvo da Lava Jato evidentemente ficou satisfeita com o fato. A postura mais contundente foi a do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que utilizou a expressão “tchau querido” - referência ao “tchau querida” do processo de afastamento da então presidente Dilma Rousseff (PT) - para comentar a cassação do hoje desafeto.

Por fim, como fica o ex-ministro e hoje senador Sérgio Moro (União Brasil/PR), o principal nome da Lava Jato? O ex-juiz responde a dois processos perante o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná, movidos pelo PL e que podem ser um risco imediato para ele. Na ação, o PL afirma que o caso é semelhante ao da ex-senadora Selma Arruda, que teve o mandato cassado, em 2020, por gastos sem a devida contabilização.

Há muitos caminhos a percorrer nessas duas frentes. Podemos afirmar, aqui, que o governo Lula (PT) precisa ter moderação nesse momento. Celebrar os dois eventos têm potencial explosivo e não seria recomendável esgarçar ainda mais o já tenso ambiente político. Afinal de contas, a complexa agenda governista precisa ser a prioridade.

André Pereira César

Cientista Político

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