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Governo Jair Bolsonaro: reforma ministerial a contragosto

Na virada de 2020 para 2021, um dos tópicos em discussão na política era uma possível reforma ministerial que seria realizada pelo presidente Jair Bolsonaro (Sem partido). Passados quase quatro meses, as mudanças no primeiro escalão não ocorreram de maneira efetiva, mas os últimos eventos indicam que isso pode mudar a curto prazo.

O presidente está sendo obrigado a substituir peças importantes de seu ministério, mesmo que a contragosto. A demissão do general Eduardo Pazuello do ministério da Saúde, mesmo que tardia e muito mais por conta da gigantesca pressão de diversos setores do que pela vontade do presidente, foi o pontapé inicial a esse movimento. O Planalto, pela própria sobrevivência, se viu obrigado a abrir a guarda e, agora, o custo político para Bolsonaro manter alguns colaboradores é elevado. A Esplanada começa a mudar de configuração.

O primeiro nome na lista, é claro, é o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Sua desastrada gestão, com ataques a importantes parceiros comerciais como a China e o estabelecimento de barreiras para o combate à pandemia, chegou a um ponto insustentável. As recentes desavenças do chanceler com o Senado Federal, a carta de diplomatas pedindo seu afastamento e o movimento de diversos setores da economia representam a pá de cal da “Era Araújo” no Itamaraty. Jogo jogado.

Pior para o ministro, que corre o risco de cair no ostracismo entre seus pares. Difícil imaginá-lo, hoje, ocupando uma embaixada de peso – os senadores certamente rejeitariam seu nome e o Planalto não enfrentaria o risco de tal desgaste político.

Passado o affair Araújo, que deve ocorrer rapidamente, dois nomes entram imediatamente na alça de mira. O titular do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é pressionado há tempos por diferentes setores, inclusive governos e investidores internacionais, por sua questionada atuação à frente da pasta. É inegável que a política ambiental em curso, além de trágica, traz danos de toda ordem ao Brasil, e o ministro não se mostrou, em momento algum, capaz de mudar o quadro. Salles pode ser considerado um zumbi em seu posto, tanto que há tempos submergiu.

Também o misterioso e enigmático ministro da Educação, Milton Ribeiro, é pressionado no cargo. Sua administração é objeto de críticas de parlamentares, de especialistas e da imprensa, que veem em curso um processo de desmanche do setor em todos os níveis. Em seu lugar, assim como no lugar de Salles, poderá assumir um nome indicado pelo Centrão.

Por fim, não se pode esquecer do resiliente Paulo Guedes, que segue à frente da Economia em meio às turbulências enfrentadas pelo país. É fato que, hoje, sua saída causaria menor impacto no mercado financeiro que tempos atrás. Aliás, seu desligamento do governo pode levar ao desmembramento do ministério, com o ressurgimento das pastas do Planejamento e da Indústria e Comércio. Mais vagas para os aliados.

Bolsonaro sente a realidade nua e crua do dia a dia da administração de um país complexo e problemático como o Brasil. A pandemia e a crise econômica deram a ele um “choque de realidade”. Essa, nas palavras de Arthur Lira (Progressistas/AL), presidente da Câmara dos Deputados, é última oportunidade para uma mudança de rumos.

André Pereira César
Cientista Político

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