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Governo em expansão – Segunda parte

Em nosso último artigo, abordamos a busca do governo por novos aliados. O presidente Lula (PT) parece realmente disposto a abrir espaço na atual gestão para o Centrão, mesmo que para isso seja necessário afastar petistas de cargos estratégicos. Nesse sentido, o recesso parlamentar, que se encerra no início de agosto, será utilizado pelo titular do Planalto para reconfigurar o primeiro escalão.

O primeiro ato se deu com a nomeação do deputado Celso Sabino (União Brasil/PA) para o cargo de ministro do Turismo, em substituição a Daniela Carneiro, que está deixando o partido em direção ao Republicanos. Ao contrário da antecessora, o novo comandante da pasta representa de fato a bancada da legenda na Câmara dos Deputados. Resta saber se o encerramento dessa longa novela trará votos adicionais para o governo - o União Brasil, como se sabe, é uma legenda bastante dividida.

Outros dois representantes do Centrão, PP e Republicanos, também terão espaço no governo. Os nomes inclusive já estão definidos – André Fufuca (PP/MA) e Sílvio Costa Filho (Republicanos/PE) –, mas não se sabe quais pastas receberão. Nos dois casos, a única certeza é que aliados de primeira hora do presidente terão de ceder, sejam petistas ou integrantes de partidos ideológica e programaticamente mais alinhados ao Planalto.

O fato é que ambos desejam ter em mãos pastas “robustas”. Para o PP, uma hipótese seria o ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família e hoje comandado pelo petista Wellington Dias, cujo desempenho tem sido alvo de críticas dentro e fora do partido. No caso, o problema seria retirar do PT o controle do principal programa social do governo, e repassá-lo para um neoaliado.

Já o Republicanos inicialmente desejava o ministério do Esporte, mas o presidente Lula não quer afastar Ana Moser do cargo. Assim, entra em cena a possibilidade do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) deixar o comando do ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que passaria a ter à frente o atual titular de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB). Por esse arranjo, Portos ficaria com o Republicanos, mas há dois problemas – antigo aliado do PT, o PSB perderia espaço e, além disso, França tem bom trânsito junto ao empresariado, o que pode não se repetir com um eventual novo ministro em uma pasta estratégica.

Ainda entram nesse complexo balaio o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a Funasa e a Caixa Econômica Federal.

Aqui, ganha importância o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT/SP), que atua diretamente nas costuras políticas. Cabe lembrar que, recentemente, ele foi duramente criticado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), por uma suposta falta de capacidade de negociar. Seria diferente agora?

Claro está que, caso aumente o espaço do Centrão, o governo e o presidente Lula ficarão ainda mais dependentes dos humores de Lira, um dos todo-poderosos da República, com todos os riscos implicados em tal situação. Valerá a pena o Planalto entrar nesse jogo justamente no momento em que as principais e mais urgentes demandas do governo já foram aprovadas?

André Pereira César

Cientista Político

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