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Governo Bolsonaro: Nova configuração política em gestação

Os acontecimentos dos últimos dias, como a divulgação de pesquisas que apontam a corrosão e a deterioração do apoio popular ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a dura reação do titular do Planalto, que chegou a colocar em xeque a realização das eleições do próximo ano, deram início a um novo movimento em Brasília.

A incisiva resposta do presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM/MG), na sexta-feira, 9 de julho, foi fruto de conversas com lideranças dos partidos que apoiam Bolsonaro no Congresso. O senador se recolocou de vez no jogo e, mais ainda, isolou Arthur Lira (PP/AL), que não havia se pronunciado sobre o caso. A manifestação do presidente da Câmara veio somente no sábado, 10 de julho, sendo lida por alguns integrantes do seu clã como “atrasada e confusa”.

O posicionamento de Pacheco ganhou outro elemento: sua disposição de disputar a sucessão presidencial. Ao realizar tal movimento, ele se aproxima ainda mais de Gilberto Kassab, cujo PSD sinaliza dia após dia estar prestes a deixar o barco governista.

Aqui cabe uma importante constatação: em seu comportamento mercurial, Bolsonaro ataca fortemente qualquer um que ventile a ideia de disputar a cadeira da presidência da República.

O governador de São Paulo, João Dória e, mais recentemente, o governador do Rio Grande do Sul, o tucano Eduardo Leite, sentem na pele os constantes ataques de Bolsonaro e dos seus seguidores mais fiéis, desde que se lançaram como possíveis candidatos do PSDB à sucessão presidencial.

O presidente não perdoa nem ex-aliados que, hoje, postulam a presidência, casos de Sérgio Moro (sem partido) e Luiz Henrique Mandetta (DEM).

Com Pacheco, porém, o quadro é outro. O titular do Planalto não pode simplesmente agredir verbalmente seu mais novo potencial adversário, sob risco de sofrer retaliações no Congresso Nacional, em especial da sua base de apoio. A prorrogação da CPI da Covid, lembremos, está nas mãos do senador mineiro.

A reconfiguração da cena política também passa pela CPI. O relator do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB/AL), passou o final de semana em Brasília trabalhando com dados e documentos. Mais ainda, ele recebeu diversas lideranças do mundo político e jurídico.

O que muito se fala nos corredores do Congresso é que o início do desembarque do governo pelos partidos terá início após a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO, por conta de ajustes ainda necessários para as eleições de 2022. Aprovada, inicia-se o afastamento.

O segundo semestre está prestes a começar e é possível afirmar que um movimento orgânico de isolamento político do presidente Bolsonaro está em curso. Algo se move em Brasília e uma nova configuração política pode estar em gestação.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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