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Governo Bolsonaro: crise política em novo patamar

Durante seu depoimento à CPI da Covid, o ex-governador Wilson Witzel discutiu com o senador Jorginho Mello (PL/SC). Ao final do embate, o parlamentar, integrante da tropa de choque governista, afirmou que “ao menos esse governo não rouba”. O discurso bolsonarista se fez presente naquele momento de maneira cristalina.

A retórica da honestidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no entanto, vinha perdendo força a partir das denúncias contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de suspeita de exportação ilegal de madeira e se acentua com a acusação de fraude envolvendo a compra da vacina Covaxin pelo governo federal. A crise política atingiu um novo patamar.

O caso é claro. O contrato para a compra da vacina foi firmado pelo ministério da Saúde com uma intermediária, a Precisa Medicamentos, com sobrepreço de 1.000%. Além disso, a importação e utilização da Covaxin não foi aprovada, até o presente momento, pela Anvisa. Um rastro de possíveis ilicitudes que entrou de imediato na mira da CPI.

Para piorar, o deputado Luís Miranda (DEM/DF), autor da denúncia, afirmou ter provas de que o titular do Planalto sabia dos fatos e nada fez. Um irmão do parlamentar é servidor da Saúde e esteve diretamente envolvido no processo de importação da Covaxin. Na sexta-feira, 25 de junho, os irmãos Miranda prestarão depoimento aos senadores membros da CPI da Covid.

Dado o quadro geral, não surpreendeu a demissão do ministro do Meio Ambiente. Ele sofria pressão há tempos e seu afastamento, justamente no dia em que o caso Covaxin veio à tona, mostra que o governo trabalha em diferentes frentes na tentativa de esfriar a crise. Tática diversionista utilizada em outros episódios de crise que, a princípio, dessa vez não deu certo.

Mais do que nunca, Bolsonaro fica refém do Centrão, que em troca da sua defesa, agora demonstra interesse em ocupar a poderosa Casa Civil. No momento, o presidente tem poucos recursos em mãos e poderá ser obrigado a ceder ainda mais espaço ao bloco, sem garantias de que terá fidelidade absoluta. Os partidos que compõem o Centrão já deram demonstrações, em governos anteriores, que a fidelidade pode mudar rapidamente de acordo com as conveniências político-partidárias.

O Planalto sentiu o golpe. O secretário-geral da Presidência, Onyx Lorenzoni (DEM/RS), em entrevista coletiva, acusou Miranda de mentiroso, traidor e de ter falsificado os documentos. Em tom de ameaça, o ministro, aliado de primeira hora de Bolsonaro, afirmou que o deputado, antes de se entender com Deus, irá se entender com eles primeiro.

A crise envolvendo a Covaxin entrou no Palácio e se tornou uma ameaça real para o presidente da República e seus conselheiros mais íntimos. No jogo da política, os próximos movimentos irão determinar se o governo caminha em direção ao xeque-mate.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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