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Governo Bolsonaro: Corrupção e política

Uma das principais propagandas, um verdadeiro mantra do presidente Jair Bolsonaro (PL), de aliados e de seguidores diz respeito à corrupção. Segundo os governistas, na atual administração não ocorrem ilícitos. Seria uma nova era, distante dos tempos e das práticas do mensalão e da Lava Jato. A opinião pública, porém, tem outra percepção da realidade.

De acordo com a última pesquisa do DataFolha, realizada nos dias 27 e 28 de julho, nada menos que 73% dos brasileiros acreditam que exista corrupção no atual governo, enquanto somente 19% dizem o contrário. Importante notar que, diferentemente de 2018, o combate à corrupção não está entre as prioridades da população. A crise econômica e social e a saúde em tempos de pandemia preocupam mais o brasileiro médio. A Lava Jato tornou-se passado.

Um corte interessante no universo pesquisado - entre os jovens, 86% acreditam haver corrupção na gestão Bolsonaro. Já para os que desaprovam o governo o índice sobe ainda mais (94%). A situação é clara. Os números desmentem o discurso oficial.

Exemplos de ilícitos não faltam no governo de Bolsonaro. Desvio de recursos no ministério da Educação, irregularidades na Codevasf com a apreensão de mala de dinheiro, orçamento secreto, tentativa de superfaturamento na compra de vacinas contra a Covid, denúncias contra os líderes do governo no Congresso Nacional – Ricardo Barros e Eduardo Gomes – são alguns casos que saltam à mente de qualquer pessoa minimamente informada.

Para o grupo mais fiel ideologicamente ao governo, essa sensação de que não há corrupção, se dá muito por conta de obstáculos impostos pelo próprio governo às investigações. Afastamento de delegados da Polícia Federal e de fiscais do IBAMA são métodos usualmente utilizados pelo titular do Planalto.

Pode-se notar que, apesar da percepção coletiva da corrupção, o eleitor não se incomoda em reabilitar políticos condenados ou afastados por qualquer tipo de ilícito. Um exemplo está no Distrito Federal, onde o ex-governador José Roberto Arruda (PL) tem chances de ter a candidatura liberada para a Câmara dos Deputados, com o apoio dos governos distrital e federal. Casos similares são encontrados em todo o país.

Pior, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgará nos próximos dias ação sobre a validade das alterações na Lei de Improbidade Administrativa. A depender da decisão da Corte, políticos e agentes públicos poderão voltar ao cenário com a queda de suas inelegibilidades, por prescrição ou mudança de critério na análise - ausência de dolo, por exemplo.

Em suma, o fenômeno da corrupção é plenamente detectado pela sociedade, mas, ao mesmo tempo, não parece gerar maiores incômodos. O problema está enraizado no Brasil.

André Pereira César

Cientista Político

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