Estágio atual do jogo sucessório - Política - Hold

Estágio atual do jogo sucessório

A antecipada disputa sucessória entrou em uma nova etapa, com potenciais candidatos lutando por espaço no jogo. Na direita e na centro-direita, em especial, o jogo é mais bruto, com reduzida margem de manobra para alguns contendores.

O ingresso do ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) no processo muda, inevitavelmente, a estratégia de seus principais adversários. Para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seu ex-aliado representa uma ameaça direta - rouba votos de eleitores desiludidos com os rumos do atual governo, em especial no que diz respeito ao combate à corrupção e a definitiva entrada no “Centrão”. A partir de agora, o titular do Planalto não poderá atacar apenas o ex-presidente Lula (PT). Moro também será alvo. O presidente da República terá munição suficiente para avariar dois adversários tão diferentes entre si?

O ex-ministro, aliás, afeta diretamente o PSDB, que está prestes a definir seu pré-candidato. Tanto João Dória quanto Eduardo Leite transitam na mesma faixa ideológica de Moro, limitando o raio de ação. Caso o governador paulista vença as prévias de domingo, as chances de composição do tucanato com o postulante do Podemos não devem ser descartadas, dado que ambos sempre tiveram um relacionamento no mínimo cordial. Resta saber o quão dividido o PSDB sairá da disputa interna - há quem aposte que metade da bancada federal, hoje composta por 34 deputados, deixe a legenda nos próximos meses. Um autêntico tucano depenado na disputa eleitoral.

Sérgio Moro igualmente tem influência sobre o recém-nascido União Brasil, fruto da fusão DEM-PSL. Lideranças da nova legenda já conversam com o ex-ministro e uma aproximação efetiva está no rol de possibilidades. O também ex-ministro Luiz Henrique Mandetta seria um dos condutores desse processo.

Partidos menores que buscam um lugar ao sol também devem negociar com o Podemos. Republicanos, Patriotas e Novo são algumas das legendas que se enquadram nessa categoria.

Necessário destacar que a entrada de Moro não altera os rumos somente da direita e da centro-direita. O neopedetista Ciro Gomes vê seu espaço político se restringir ainda mais e pode estar começando a repensar o futuro de sua candidatura. Para Lula, há o risco de o ex-ministro despertar o sentimento antipetista de parcela não desprezível do eleitorado. O ex-presidente e seus aliados sabem que o novo postulante pode se tornar uma ameaça real em algum momento da disputa.

Enfim, as próximas pesquisas apontarão o potencial eleitoral de Sérgio Moro. Caso ele atinja os dois dígitos das intenções de voto, estará largando bem. Para ele, por ora, a situação é confortável. O plano B, disputar o Senado Federal pelo Paraná, dá certa segurança a seu voo atual.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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