Estado atual da sucessão presidencial - Política - Hold

Estado atual da sucessão presidencial

O encerramento do período da “janela partidária” marca a conclusão de importante etapa do processo eleitoral de 2022. Com os partidos reestruturados e os pré-candidatos a cargos do Executivo devidamente estabelecidos, a disputa entra em um novo patamar. Agora, a formação de alianças e palanques começará a ganhar forma. Outubro está cada vez mais próximo.

A força dos partidos - aproximadamente cem deputados federais mudaram de legenda, gerando uma nova correlação de forças na Câmara. O saldo final aponta um vencedor, o Centrão. As três principais agremiações do bloco ampliaram suas bancadas - o PL ganhou trinta deputados e agora conta com 72 em suas fileiras, o PP aumentou em treze e fechou com 56 e o Republicanos ficou com dez a mais, chegando a 43. Boa notícia para o presidente Jair Bolsonaro (PL), que, em tese, contará com mais apoio nos estados.

Governo remodelado - dez ministros deixaram o governo para disputar as eleições de outubro - governos estaduais, Senado ou Câmara. O agora ex-ministro da Defesa, Braga Netto, será o candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro. Importante ressaltar aqui que o Planalto não quis gerar ruídos na troca de comando nas pastas. Assim, os secretários-executivos foram alçados ao cargo de ministros. Solução caseira.

O”projeto” Leite/Tebet - ao renunciar ao governo gaúcho e manter-se filiado ao PSDB, Eduardo Leite redobrou suas apostas na sucessão presidencial. Contando com o apoio de caciques tucanos como Aécio Neves e Tasso Jereissati, ele mantém conversas com a senadora Simone Tebet (MDB) e lideranças do União Brasil - tendo como pano de fundo o colapso da pré-candidatura de seu correligionário João Dória (SP). Muita água e sangue correrão até as convenções partidárias.

Dória e o “Dia do Saio” - ciente da pressão de setores do PSDB, o paulista João Dória realizou um movimento ousado - ameaçou desistir da disputa presidencial e seguir no comando do governo estadual, rompendo acordo celebrado com Rodrigo Garcia (PSDB). A ação de Dória afinal surtiu efeito, pois ele conseguiu uma carta-compromisso da presidência do partido de que será o candidato ao Planalto. O agora ex-governador venceu a batalha, mas a guerra interna está longe do fim.

O choque de realidade de Moro - a realidade se fez presente e o ex-ministro Sérgio Moro, além de ser obrigado a trocar o Podemos pelo União Brasil, desistiu da candidatura presidencial e anunciou que disputará uma vaga na Câmara. Seu projeto inicial naufragou por motivos óbvios - escasso carisma, inexperiência, elevada rejeição no mundo político e reduzida capacidade de articulação. O sonho de uma noite de verão foi desfeito.

Lula em movimento - a princípio, o ex-presidente não se abalou com os eventos da “quinta-feira maluca”. O petista manteve a agenda de conversas internas e inclusive conseguiu selar um acordo com o MDB baiano, reduzindo a tensão política naquele estado. Líder nas pesquisas, ele tenta evitar bolas divididas, ao menos por ora.

O jogo de Ciro Gomes - o ex-ministro tem tentado se apresentar, ainda sem sucesso, como uma alternativa a Lula e Bolsonaro, mas não se coloca como um integrante da terceira via. Aproveitando as movimentações da quinta-feira, ele afirmou que “muitos vão ceder, mas não serei eu”. Para conquistar o eleitor, o neopedetista tentará agora incluir a resiliência entre seus atributos. Suas chances de êxito, porém, seguem reduzidas.

André Pereira César
Cientista Político

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