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Estado atual da reforma ministerial: uma análise

A novela da reforma ministerial continua e a indefinição sobre a nova configuração do primeiro escalão do governo já irrita a muitos, em especial o Centrão, o novo sócio do condomínio. Por conta disso, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), condicionou a retomada das votações das propostas de interesse do Planalto à solução definitiva da questão.

Por ora, a única certeza é que PP e Republicanos terão um ministério cada, com os deputados André Fufuca (PP/MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos/PE). Quais pastas ocuparão, porém, ainda é uma incógnita. A situação incomoda aliados de primeira hora do presidente Lula (PT), que sabem que perderão espaço na Esplanada.

A princípio, o PP de Fufuca deseja o ministério do Desenvolvimento Social e a presidência da Caixa Econômica Federal, que pode ser ocupada pela ex-deputada Margarete Coelho, aliada de Lira. Já o Republicanos mira o ministério do Esporte.

A troca poderá envolver outras cadeiras. Nesse sentido, ministros sem um padrinho político forte, como Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Ana Moser (Esporte), estão ameaçados de perder seus postos. Também correm risco o ministro do Desenvolvimento Social, o petista Wellington Dias, e a ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos (PCdoB). Na verdade, tudo pode ocorrer nesse processo.

Um caso bastante delicado envolve o PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, que também ocupa a pasta de Indústria e Comércio. Ele realiza um bom trabalho e não deseja deixar o cargo, mesmo que possa ser deslocado para o ministério da Defesa. Além disso, a legenda não deseja perder espaço no primeiro escalão e as lideranças partidárias criticam o ingresso do Centrão no governo - mesma posição de outro aliado, o PSOL.

Para piorar, outros focos de crise surgem em diferentes frentes. Aqui, chama a atenção o ministério de Minas e Energia, cujo titular, Alexandre Silveira, tem ficado isolado de debates importantes. Nesse caso, o governo pode comprar uma briga com o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), aliado e amigo do ministro - e também com o presidente da legenda, o onipresente Gilberto Kassab, um dos fiadores da indicação de Silveira. Por sinal, o PSD deseja comandar a ressuscitada Funasa.

Toda essa situação deságua na agenda do governo no Congresso Nacional. Já está claro que o Centrão aceita retomar a votação de matérias cruciais para o Planalto, como a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal, somente quando as mudanças na Esplanada estiverem sacramentadas. O bom ambiente que os governistas encontraram entre os parlamentares no final do semestre passado não está se repetindo agora.

Por fim, duas questões se colocam nesse momento. As mudanças resultarão em uma base mais sólida e mais votos para o governo? E a segunda, ainda mais importante - conseguirá o presidente Lula domar uma frente ainda mais ampla, com claras diferenças ideológicas e programáticas?

Um último comentário. A depender dos resultados das mudanças de agora, são grandes as possibilidades de que uma nova reforma ministerial ocorra no final do ano.

André Pereira César

Cientista Político

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