Entre a farsa e a comédia - Política - Hold

Entre a farsa e a comédia

Brasília assistiu a um evento que partiu da farsa e desaguou na comédia. No centro do palco estava um senador de oposição, mas outros figurantes também participaram, cada um desempenhando muito bem o seu papel previamente ensaiado.

Aos fatos. O senador Marcos do Val (Podemos/ES) declarou que, passadas as eleições, teria se encontrado com o candidato derrotado Jair Bolsonaro (PL) e com o então deputado federal Daniel Silveira (PTB/RJ). Em pauta, um plano para gravar e prender o ministro do Supremo Tribunal Federal e atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, com o intuito de impedir, assim, a posse do hoje presidente Lula (PT). Em suma, tentativa de golpe. Indo além, do Val afirmou que devido a ameaças à sua família e por problemas de saúde, renunciaria aos quatro anos restantes de seu mandato como senador da República.

Após o insuspeito encontro no Palácio da Alvorada ou na Granja do Torto, posto que o senador do Val não soube afirmar onde se deu a conversa, disse que procurou o ministro Alexandre de Moraes para relatar todo o ocorrido. Segundo as suas declarações, o ministro Moraes apenas ouviu.

Após a repercussão de toda essa história, o senador do Val recebeu ligações do senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL/SP), filhos do ex-presidente e resolveu recuar em sua decisão de renúncia. Na nova versão agora divulgada por do Val, o deputado Daniel Silveira teria apresentado a proposta e Bolsonaro teria ficado o tempo todo calado, apenas observando. Um verdadeiro recuo no recuo.

O detalhe insólito foi a prisão, no mesmo dia dessas declarações de do Val, do ex-deputado Silveira. Personagens bastante conhecidos em um roteiro de filme B.

Flávio Bolsonaro confirmou o encontro entre as três personagens, mas alegou não ter visto, nesse episódio, o cometimento de nenhum crime por parte do pai.

O ministro Alexandre de Moraes também confirmou que foi procurado por do Val. Nas palavras do próprio ministro, “a ideia genial que tiveram foi colocar escuta no senador para que o senador, que não tem nenhuma intimidade comigo --conversei exatamente três vezes na vida com esse senador-- para que o senador pudesse me gravar e, a partir dessa gravação, pudesse solicitar a minha retirada da presidência dos inquéritos. (…) Foi exatamente essa a tentativa de uma Operação Tabajara, que mostra exatamente o quão ridículo nós chegamos na tentativa de um golpe no Brasil.”

O evento serve para enfraquecer ainda mais esse grupo de oposição, que acabara de ser derrotada no Senado Federal. Para o ex-presidente Bolsonaro, a pressão de seu partido deve aumentar. Afinal de contas, do Val, ao tornar público esse encontro, agrava ainda mais a já frágil situação de Bolsonaro. Manterá o PL o apoio a ele ou, no limite, Bolsonaro será expulso da legenda? O momento não é bom para o ex-mandatário.

Sobre uma eventual CPI para apuração dos atos do dia 8 de janeiro de 2023, é pouco provável que ocorra. Preocupado com a pesada agenda legislativa e com as investigações já em curso, o governo quer evitar ruídos desnecessários. Posicionamento correto, diga-se.

Para Marcos do Val, os quinze minutos de fama foram atingidos. Ele perde qualquer espaço político que porventura tinha entre seus pares e deve ficar ainda mais isolado. Uma figura tóxica, que deve cair no ostracismo, um verdadeiro zumbi a circular entre os corredores do Congresso Nacional.

André Pereira César
Cientista Político

Alvaro Maimoni
Consultor Jurídico

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